Quinta-feira, 29 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 27 de maio de 2025
Quando 2025 começou, a expectativa era alta no setor de turismo dos Estados Unidos. Muitos apostavam que o número de visitantes estrangeiros alcançaria os patamares de antes de 2020 e do abalo causado pela pandemia de covid.
No entanto, tarifas comerciais impostas a dezenas de países pelo presidente Donald Trump, planos de deportação em massa, casos de turistas detidos ao tentar entrar nos Estados Unidos e uma retórica às vezes interpretada como hostil em relação ao resto do mundo têm desmotivado viajantes estrangeiros.
A esperança de alcançar os números de 2019 foi substituída por um cenário de preocupação no mercado de viagens e turismo dos Estados Unidos, que é o maior do mundo e contribui com US$ 2,36 trilhões (cerca de R$ 13,3 trilhões) para o PIB do país.
Nos últimos meses, diferentes entidades e empresas do setor vêm sinalizando que a economia dos EUA poderá perder bilhões de dólares em receita neste ano devido à diminuição no número de turistas e boicotes a produtos americanos.
Alguns analistas afirmam que o setor está sendo afetado por um sentimento de antiamericanismo, em reação a medidas recentes do governo.
“O sentimento antiamericano pode estar impulsionando um declínio no turismo internacional”, disse o economista-chefe do J. P. Morgan nos Estados Unidos, Michael Feroli, em nota aos clientes no fim de abril.
Ele citou notícias sobre turistas cancelando viagens ao país em protesto contra as políticas comerciais e por preocupações com relatos de detenções de visitantes estrangeiros.
“Prevemos que a redução nos gastos [de viajantes estrangeiros nos EUA] provavelmente subtraia cerca de 0,1% do PIB este ano”, ressaltou.
Considerando-se que o PIB dos Estados Unidos é de quase US$ 30 trilhões (cerca de R$ 169 trilhões), um impacto dessa magnitude seria de cerca de US$ 30 bilhões (R$ 169 bilhões).
Em nota aos clientes em março, economistas do Goldman Sachs já haviam alertado que, no pior cenário, o país poderia perder até US$ 90 bilhões (cerca de R$ 507 bilhões) com a retração nas chegadas de viajantes internacionais e boicotes a produtos americanos.
Em 13 de maio, o World Travel & Tourism Council (Conselho Mundial de Viagens e Turismo, ou WTTC, na sigla em inglês), organização global que representa o setor, disse que os Estados Unidos poderão perder US$ 12,5 bilhões (cerca de R$ 70 bilhões) em gastos de visitantes estrangeiros em comparação ao ano passado.
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Segundo o WTTC, os gastos desses turistas no país devem cair de US$ 181,2 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) em 2024 para US$ 168,7 bilhões (R$ 950 bilhões) neste ano. Em 2019, antes da pandemia, visitantes internacionais deixaram mais de US$ 217 bilhões (R$ 1,2 trilhão) nos Estados Unidos.
A empresa Tourism Economics, parte da Oxford Economics, especializada em pesquisas no setor, prevê queda de 5% nos gastos de visitantes internacionais nos Estados Unidos neste ano, resultando em perda de receita de US$ 9 bilhões (cerca de R$ 50 bilhões).
Em dezembro, quando a perspectiva para 2025 ainda era positiva, a Tourism Economics apostava em aumento de 8,8% no número de visitantes estrangeiros no país em comparação ao ano anterior. Em abril, a previsão passou a ser de queda de 9,4%, “puxada por um declínio de 20,2% nas visitas [de viajantes] do Canadá”.
“Em meio a uma onda de incerteza, uma coisa é evidente: as políticas e os pronunciamentos de Trump produziram uma mudança negativa de sentimento em relação aos Estados Unidos entre os viajantes internacionais'”, disse a Tourism Economics em comunicado.
No mês passado, ao responder perguntas de jornalistas sobre a queda no número de visitantes estrangeiros, Trump disse que talvez haja “um pouco de nacionalismo em ação”, mas descartou maiores preocupações e afirmou que os Estados Unidos “tratam os turistas muito bem”.
Cancelamentos
“Há [no momento] um sentimento global de que os Estados Unidos não são um lugar amigável e acolhedor, e acho que isso tem tudo a ver com o governo atual”, diz Christopher Gaffney, professor do centro de hospitalidade da Universidade de Nova York, em entrevista à BBC News Brasil.
“Acho que os Estados Unidos estão projetando para o mundo uma face agressiva, belicosa, meio raivosa”, ressalta Gaffney.
“E isso aumentará o sentimento antiamericano. As pessoas escolherão viajar para outro lugar.”
Comparando o primeiro bimestre de 2024 com o de 2025, o número de visitantes estrangeiros nos EUA aumentou 1,6%.
Nos dois primeiros meses de 2025, México (28%) e Canadá (25,9%) foram responsáveis por mais da metade dos visitantes, seguidos por Reino Unido (5%) e Brasil (3,3%).
Canadá e México têm sido os países que mais mandam visitantes para os EUA. Os dados consolidados para 2023 e 2024 mostram os dois na liderança, enquanto o Brasil ficou em 6º lugar nesses dois anos, atrás de Reino Unido, Alemanha e Índia. (Com informações da BBC Brasil)