Segunda-feira, 01 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2025
O enfrentamento ao narcotráfico passa por controle maior das fronteiras, mas as Polícias Federal e Rodoviária Federal têm baixo efetivo e enfrentam falta de recursos, e o Exército brasileiro se nega a fazer um trabalho integrado mais efetivo. A avaliação é da diretora-executiva do Fórum de Segurança Pública, Samira Bueno. Ela destaca que o Brasil faz fronteira com os três maiores produtores de cocaína do mundo – Colômbia, Bolívia e Peru – e se transformou em hub de distribuição de droga ao mundo.
“O Exército Brasileiro se recusa na prática a trabalhar de forma integrada com forças locais de segurança para barrar entrada desses ilícitos e fazer controle mais efetivo de fronteira”, disse. Procurado, o Exército disse que não comenta declarações de terceiros.
Em entrevista concedida ao programa Dois Pontos, apresentado por Roseann Kennedy, Samira manifesta preocupação com a forma como o Congresso está tratando o projeto de lei antifacção. A pesquisadora também defende a recriação do Ministério da Segurança Pública.
— Veja os principais trechos da entrevista:
Atuação
“A gente precisa também reconhecer que o Exército Brasileiro tem papel crucial no controle de fronteiras que não está sendo feito. E que o Exército não quer fazer.”
“GLO (Lei de Garantia da Lei e da Ordem) precisa para mandar uma unidade do Exército para fazer patrulhamento ostensivo no Rio de Janeiro, mas na região de fronteira em terras federais não há por que o Exército não atuar.”
“Em Tabatinga, curiosamente, a gente tem uma unidade do Exército, (com) milhares de soldados, que a gente não entende muito bem o que faz. Esse é um ponto também não solucionado do debate sobre fronteiras no Brasil.”
“A Polícia Federal tem 12 mil homens e mulheres no efetivo? De fato. Mas o Exército Brasileiro tem muito mais do que isso. Não quero fazer parecer que o que eu estou defendendo é que, com comando e controle, a gente vai resolver o problema da Amazônia, por que estou convencida que não é isso. A gente precisa levar para esses territórios, acesso a Justiça, de fato.”
“Como esses policiais vão sair de lá com 6,5 toneladas de cocaína? As forças de segurança acionam o Exército, porque quem tem o helicóptero, que é aquele Black Hawk, que é capaz de pousar em uma área de selva, é o Exército.”
“O fato é que o Exército Brasileiro se recusa – eu até estou usando uma expressão forte, mas é isso que a gente tem visto na prática – se recusa a trabalhar de forma integrada com as forças locais de segurança para barrar a entrada de todos esses ilícitos e fazer um controle mais efetivo de fronteira.”
Limitações
“De um lado, nós temos polícias federais – tanto a Rodoviária Federal quanto a Polícia Federal – com pouco mais de 12 mil pessoas de efetivo, cada uma, para tudo.“
“Se a gente for pensar na fiscalização no aeroporto, quando a gente pega um voo, até esse olhar para a segurança nas fronteiras, é a mesma polícia.”
“O custo de combustível para você percorrer 500 quilômetros em um rio na Amazônia é 25 vezes maior do que percorrer 500 quilômetros com uma viatura 4×4 em uma rodovia no interior de São Paulo.”
“Acho que isso é algo que talvez a União não tenha entendido quando a gente fala do ponto de vista de distribuição de recursos. Ali, a necessidade de recurso é outra.”
PL Antifacção
“A gente está aqui fazendo essa discussão sobre a necessidade de fortalecer institucionalmente a Polícia Federal em um momento em que o Congresso acaba de aprovar o que está sendo chamado de PL Antifacção que tira R$ 350 milhões dessa mesma PF.”
“Ainda que seja legítima a discussão sobre para quem vai os recursos dos bens apreendidos durante as operações, o fato é que – e eu espero que isso seja resolvido no Senado – o Estado brasileiro, ou pelo menos o Congresso vai ter de dar uma resposta para isso.” (Com informações do portal Estadão)