Sexta-feira, 10 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de março de 2019
Em 2018, a economia brasileira cresceu apenas 1,1%, reforçando o quadro de fraqueza do PIB (Produto Interno Bruto), marcado pela recuperação lenta do investimento e pela expansão modesta do consumo das famílias. Para completar, a atividade em 2019 queimou a largada, com indicadores apontando um fraco desempenho também em janeiro.
Aliado à baixa “herança estatística” deixada pelo ano passado, de 0,4%, isso torna mais difícil um crescimento na casa de 3% em 2019. Uma expansão do PIB mais próxima de 2% desponta como a mais provável.
Dados do mercado de trabalho decepcionaram. O desemprego no trimestre encerrado em janeiro ficou em 12%, acima do previsto. O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostrou a criação de 34 mil vagas formais no primeiro mês do ano, bem abaixo da média de 82 mil estimada pelos analistas.
Com uma atividade que custa a engatar e uma inflação baixa, inferior a 4%, começa a crescer entre os economistas a ideia de que pode ser necessário um corte na Selic neste ano. A taxa está em 6,5% ao ano desde o início de 2018. Uma redução ainda não faz parte da maioria dos cenários e quem a projeta em geral condiciona a ação do BC (Banco Central) à aprovação da reforma da Previdência.
A economia continua a caminhar a um ritmo fraco, mesmo depois da recessão cavalar de 2014 a 2016. No ano passado, as incertezas provocadas pela greve dos caminhoneiros e pelas eleições travaram muitos investimentos, em uma economia que ainda tem enorme capacidade ociosa. O clima de indefinição diminuiu depois das urnas, mas ainda há dúvidas sobre a reforma da Previdência.
O resultado acumulado pelo PIB em quatro trimestres evidencia a dificuldade da atividade em ganhar tração. Nessa medida, o PIB atinge o fundo do poço no segundo trimestre de 2016, com uma queda de 4,5% e se recupera aos poucos, atingindo alta de 1,1% no acumulado em 2017.
De lá para cá, o desempenho pouco se alterou, alcançando crescimento de 1,4% nos quatro trimestres até setembro de 2018, mas voltou para o ritmo de 1,1%. Em um ranking de 42 países que já divulgaram o dado de 2018, o Brasil ocupa o 40º lugar.
Ritmo fraco
A recuperação da economia brasileira é a mais lenta da história das várias recessões pelas quais passou o país, diz Alberto Ramos, diretor do Goldman Sachs. Ao longo do ano passado, o avanço da economia não foi uniforme. Cresceu 0,4% no primeiro trimestre, zero no segundo, 0,5% no terceiro e apenas 0,1% no quarto.
“Em linhas gerais, vimos uma economia num ritmo mais fraco no fim do ano”, afirma Alessandra Ribeiro, diretora da Tendências Consultoria.
No acumulado de 2018, o investimento cresceu 4,1%, o primeiro ano de expansão depois de quatro anos seguidos de queda. A alta da FBCF, que caiu mais de 30% na crise, foi em parte inflada pelas operações de plataformas de petróleo, que passaram a ser registradas como importação de bens de capital.
Já o consumo das famílias cresceu 1,9% no ano passado, um ritmo tampouco exuberante. Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a demanda das famílias foi s principal responsável pela expansão de 2018, compensando a contribuição negativa do setor externo, de 0,5 ponto percentual, pois as exportações cresceram menos que as importações.
Para Alessandra, o consumo das famílias deve continuar a puxar o PIB neste ano, estimado em alta de 2%. Além da massa de renda, que deve avançar 2,7% em termos reais e, a ocupação, que deve subir 1,6%, o crédito deve ajudar. O cenário-base da Tendências é de estabilidade para a Selic até o fim do primeiro trimestre de 2020.
Faltam elementos que impulsionem a economia a um ritmo acima de 2%, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Ele estima alta de 1,8% no PIB este ano. O economista espera a aprovação da reforma da Previdência, mas tem dúvidas quanto à capacidade de esse fator se traduzir em aumento de atividade.
Ele cita como outros entraves o mercado de trabalho precário e a falta de recursos dos governos para investimentos. Gonçalves acredita na queda da Selic até o fim do ano. “O índice deve ficar em 6% “no máximo”, prevê.