Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2019
Uma estranha notícia sacudiu as bolhas ultraconservadoras e negacionistas da mudança climática no fim-de-semana: um cientista sueco teria proposto o consumo de carne humana para mitigar o aquecimento global. A “bomba” foi divulgada pelo site reaça Breitbart e prontamente retuitada pelo mestre dos magos das fake news, Donald J. Trump em pessoa. Não foi bem assim.
Magnus Söderlund, o palestrante em questão, não é um cientista relacionado às mudanças do clima. Ele é um catedrático de marketing na Escola de Economia de Estocolmo. Söderlund tampouco propôs o canibalismo como parte de um pacote de soluções para frear a deterioração ambiental. Essa versão foi propalada pelos seguidores de Trump para ridicularizar os cientistas ambientais.
Feitas as duas ressalvas, o sueco disse o que disse. Foi uma provocação, um exercício retórico para a plateia de um fórum de alimentação. A hipótese levantada por Söderlund é a seguinte: em um cenário pré-apocalíptico, a humanidade seria forçada a buscar fontes alternativas de nutrição. Aí entram os vermes, os insetos e, em última análise, a carne humana. Então o professor disse que o tabu anticanibal é conservador e pode ser superado a depender das circunstâncias.
É tudo puramente retórico. Ele não entra no mérito da obtenção dessa fonte de proteína. Como conseguir carne humana sem matar – pouquíssimos levantam a voz contra este tabu – nem se submeter aos riscos do consumo de cadáveres por morte natural?
Richard Dawkins – este, sim, um notável cientista – chegou a teorizar sobre o cultivo de células humanas em laboratório para a produção de alimento. Provocação desnecessária, já que o mesmo pode ser feito com todos os outros seres do reino animal.
O fato é que Söderlund não falou nenhum absurdo, muito pelo contrário. A repulsa ao canibalismo frequentemente é superada em situações extremas. Um episódio muito conhecido foi o acidente aéreo com a seleção uruguaia de rúgbi, no alto dos Andes, em 1972.
Em um ambiente composto apenas por gelo e muitas rochas, os sobreviventes da tragédia se viram obrigados a comer os colegas mortos. Muitos dos canibais de ocasião estão vivos até hoje, graças a essa sábia decisão. E você, como se comportaria? O que precisaria ocorrer para você se render ao canibalismo? Ou você prefere a morte a comer carne humana?