Segunda-feira, 03 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2025
Instalada há mais de dois meses, a CPMI que investiga o escândalo das aposentadorias dos idosos ainda não produziu nenhuma grande revelação. Antes dela, a Polícia Federal já havia identificado o funcionamento da engrenagem criminosa, apontado o nome dos personagens envolvidos e iniciado o rastreio do dinheiro roubado. A expectativa é que essa terceira etapa do trabalho produza as novidades mais aguardadas. A PF descobriu, por exemplo, que o advogado Eric Fidelis, filho do ex-diretor do INSS André Fidelis, recebeu 5,1 milhões de reais das entidades envolvidas na fraude. A suspeita é que o advogado foi usado para ocultar o pagamento de propina ao pai. Eric foi convocado para depor. É bem provável que ele compareça munido de um habeas corpus que lhe permitirá ficarem silêncio, assim como ocorreu com outros investigados. Dependendo do que o advogado disser — ou não disser —, essa trilha é capaz de levar à compreensão de como o esquema conseguiu operar durante cinco anos, desviar cerca de 4 bilhões de reais, cooptar autoridades e atravessar dois governos.
A Polícia Federal aponta André Fidelis como suspeito de ter recebido propina em troca de emitir autorizações para que associações e sindicatos envolvidos na trama pudessem operar fraudulentamente descontos nas aposentadorias dos idosos. O repasse ao filho do ex-diretor foi feito pelo lobista Antônio Carlos Antunes, conhecido como “o Careca do INSS”, tido como o principal operador do esquema. André Fidelis assumiu o cargo no INSS em 2023, apadrinhado pelo senador Weverton Rocha (PDT-MA). O parlamentar é um político influente no Ministério da Previdência. Seu partido comanda a pasta desde o início do governo Lula. O congressista não nega ter apoiado a indicação do ex-diretor. “Ele um dia apareceu no meu gabinete pedindo apoio político. A única coisa que pedi a ele foi para nos ajudar a diminuir a fila do INSS no Maranhão”, diz o parlamentar, ressaltando que depois disso não teve mais contato com Fidelis, que foi convocado para depor, mas não compareceu alegando problemas de saúde.
Sem notícias
Weverton conta que a última notícia que teve sobre o ex-diretor foi repassada pelo então ministro da Previdência, Carlos Lupi, antes da eclosão do escândalo. “Uma no depois da nomeação, o Lupi me procurou para uma conversa e disse: ‘aquele rapaz que você apoiou, não estou gostando do serviço dele, não está me trazendo resultados, vou tirá-lo. Tem algum problema pra você?’.” É tudo muito peculiar. A nomeação para o cargo de diretor do INSS é uma prerrogativa exclusiva do ministro da Previdência, não precisa de apoio político de ninguém e muito menos do aval do Senado. Carlos Lupi, presidente do PDT, mesmo partido do senador, foi demitido após a descoberta das fraudes contra os idosos. Foi a segunda passagem dele pelo ministério — e também a segunda demissão. Em 2011, durante o governo Dilma Rousseff, Lupi foi exonerado após usar um avião de uma entidade beneficiada por convênios irregulares assinados durante sua gestão. Weverton era assessor especial do ministro e também perdeu o posto.
Vice-líder do governo Lula, o senador é tido como responsável por uma até hoje não muito bem explicada decisão da presidência do Congresso. Logo depois da revelação das fraudes, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) decretou sigilo de 100 anos sobre informações acerca da visita de lobistas aos gabinetes parlamentares. Já se sabe que o Careca do INSS mantinha contatos com vários políticos. Um deles era exatamente Weverton Rocha. O senador confirma que, embora não tenha relação alguma com o lobista, ele esteve três vezes no seu gabinete e uma vez em sua residência. O Careca do INSS, porém, teria aparecido durante um churrasco sem ser convidado. “Ele furou uma das minhas ‘costeladas’, que todo mundo conhece em Brasília”, jura o senador. “A pessoa que o levou disse que ele foi para uma conversa (sobre negócios). Aí eu disse: ‘só atendo no meu gabinete!’.” (As informações são da Veja)