Segunda-feira, 11 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de outubro de 2024
Você sabia que agentes infecciosos como bactérias e vírus podem causar câncer? Segundo o médico coordenador do departamento de Cabeça e Pescoço e Pesquisador do Hospital de Amor, Dr. Ricardo Gama, de 15 a 17% de todos os tumores malignos possuem relação com esses agentes, incluindo o câncer de colo uterino, predominantemente ocasionado pelo papiloma vírus humano (HPV), com incidência de mais de 17 mil novos casos por ano apenas no Brasil.
O médico conta que já ficou também evidenciada cientificamente uma relação entre o HPV e o câncer de orofaringe ou garganta. “Um estudo desenvolvido no HA, em Barretos (SP), mostrou que cerca de 20% dos pacientes com câncer de garganta tiveram sua doença associada com a infecção crônica pelo HPV. Em outros países, como os Estados Unidos, o HPV chega a ser responsável por 90% dos tumores de garganta. Além do câncer de colo do útero e da garganta, existem outros diretamente relacionados ao HPV, como o de ânus, pênis, vagina e vulva e todos de transmissão sexual”, explica Gama.
Mas o especialista revela que a infecção pelo HPV não é a única vilã, existem evidências que também comprovam que o câncer de estômago está associado com a infecção pela bactéria conhecida como Helicobacter pilory; assim como o vírus HIV (da AIDS) pode ser fator de risco para alguns tipos de câncer do sistema linfático, como o linfoma; enquanto o vírus de Epstein-Barr (EBV) pode ter relação com o carcinoma nasofaríngeo indiferenciado, o câncer gástrico e o linfoma.
O médico infectologista do Hospital de Amor, Dr. Paulo de Tarso de Oliveira e Castro, ressalta também que as infecções causadas pelo vírus da hepatite B e da hepatite C se não diagnosticadas e tratadas adequadamente, poderão evoluir para hepatite crônica, cirrose e posteriormente para um tipo de câncer do fígado, chamado hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular. “O câncer do fígado é uma das doenças malignas mais comuns em todo o mundo, com aproximadamente 840.000 casos novos por ano (a sua incidência ocupa o terceiro lugar entre todos os cânceres) e 780.000 mortes foram notificadas em 2018, classificando-se como a terceira mortalidade entre todos os cânceres. O carcinoma hepatocelular é responsável por 90% dos casos primários de câncer de fígado, por isso é considerado um problema de saúde pública desafiador”.
O médico também explica que nos EUA e na Europa Ocidental este tipo de tumor vem aumentando, com a maioria dos pacientes com carcinoma hepatocelular tendo uma cirrose subjacente, que foi principalmente secundária à infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) ou pelo vírus da hepatite C (HCV) no passado.
Prevenir infecções a fim de evitar o surgimento do câncer
O infectologista do HA frisa que o HPV e os vírus da hepatite B e C são transmitidos por meio de contato sexual sem proteção, ou seja, sem o uso de preservativo. Assim, a prática de sexo seguro (redução do número de parceiros e o uso correto de preservativo), é a principal forma de prevenção para esses vírus e outras infecções transmitidas pelo sexo, como gonorreia, sífilis, HIV, etc. “Os vírus da hepatite B e C também podem ser transmitidos pelo sangue, então compartilhar seringas e agulhas contaminadas, assim como artigos de uso pessoal, como cortadores de unhas, barbeadores, escovas de dentes, entre outros, podem transmitir esses vírus. Portanto, devemos evitar compartilhar os itens mencionados anteriormente”, diz Tarso.
O médico lembra que tanto o HPV como o vírus da hepatite B, felizmente, têm vacinas disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), portanto a vacinação contra esses vírus, associada às medidas acima, é extremamente eficaz na prevenção dessas infecções e consequentemente na prevenção dos cânceres associados a esses vírus.
“A vacina da hepatite B deve ser iniciada ainda na maternidade e a vacinação completa consiste na administração de 3 doses. A vacina disponível pelo SUS contra o HPV protege contra 4 tipos do vírus e está indicada para meninos e meninas na pré-adolescência (a partir dos 9 anos de idade) e o esquema completo são 2 doses. Na rede privada existe vacina disponível que oferece proteção para 9 tipos do HPV. Infelizmente, para o vírus da hepatite C não existe vacina disponível”, conta.
Como pacientes oncológicos devem prevenir infecções
Segundo o infectologista, para o tratamento do câncer o paciente pode precisar de cirurgia que, muitas vezes, são cirurgias de grande porte, quimioterapia ou radioterapia. “A depender do tipo de câncer, estes três tipos de tratamento podem ser associados. Tanto a quimioterapia como a radioterapia diminuem as defesas do paciente e isso coloca o paciente em risco de adquirir infecções”, explica Tarso.
Para os pacientes que irão iniciar o tratamento oncológico, uma das principais medidas para prevenção de infecção é a atualização da carteira de vacinação conforme a faixa etária/idade. Pelo Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, as seguintes vacinas são recomendadas para os pacientes que irão fazer quimioterapia e/ou radioterapia: difteria acelular, coqueluche, tétano, Haemophilus influenza b (conjugada), hepatite B, poliomielite (inativada), sarampo, caxumba, rubéola, zoster, febre amarela, influenza, COVID-19, meningite C, HPV, pneumocócica (VPC13 e VPC23). Todas elas estão disponíveis pelo SUS, entretanto vacinas com vírus vivos ou atenuadas (febre amarela, zoster, sarampo, caxumba, rubéola, pólio oral) são contraindicadas para pacientes em quimioterapia e/ou radioterapia.
“Ressalto que essa contraindicação vai até 6 meses após o término da quimioterapia e/ou radioterapia. Infelizmente, devido a urgência do tratamento oncológico, o paciente não tem tempo de atualizar sua carteira de vacinação antes do início da quimioterapia e/ou da radioterapia”, enfatiza o Dr. Paulo, que reforça também a necessidade de os familiares estarem com as seguintes vacinas em dia: influenza (gripe), sarampo, rubéola, caxumba e COVID-19.