Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de abril de 2025
Harvard não é apenas a universidade mais prestigiada dos Estados Unidos, mas também a mais rica do país e do mundo. A instituição tem um patrimônio (ativos próprios que investe para financiar suas atividades) de US$ 53 bilhões (R$ 308 bilhões), mais que o Produto Interno Bruto de 120 países, incluindo Islândia, Bolívia, Honduras e Paraguai.
Doações milionárias, investimentos bem-sucedidos e uma gestão rigorosa fizeram de Harvard uma instituição com recursos suficientes, em teoria, para resistir a pressões políticas e econômicas que abalariam outras universidades.
Essa capacidade foi posta à prova nesta semana, quando o presidente Donald Trump anunciou um congelamento de US$ 2,2 bilhões em financiamento federal para Harvard porque a universidade se recusou a aceitar uma série de exigências sobre como opera, recruta e ensina.
Esse ataque, somado às ameaças de retirar isenções fiscais e proibir a admissão de estudantes estrangeiros, é visto como parte de uma ofensiva mais ampla contra instituições educacionais de elite que Trump destacou como bastiões de ideias progressistas e de esquerda.
De qualquer forma, enquanto outros cederam às ameaças do presidente, Harvard seguiu firme.
Mais ameças
A Universidade Harvard está no centro de uma batalha política sem precedentes com o presidente Donald Trump, que recentemente ordenou o congelamento de US$ 2,2 bilhões em bolsas e US$ 60 milhões em contratos para a instituição.
O presidente anunciou a medida depois que Harvard se recusou a cumprir uma série de exigências do governo que, sob o pretexto de combater o antissemitismo, incluíam mudanças nas políticas acadêmicas e de contratação e admissão.
O presidente de Harvard, Alan Garber, rejeitou publicamente essas condições e defendeu a autonomia intelectual da universidade: “Nenhum governo, independentemente do partido no poder, deve ditar o que as universidades privadas podem ensinar”, escreveu ele em uma mensagem à comunidade universitária.
Em resposta, Trump intensificou seus ataques, alegando que a instituição sediada em Boston “ensina ódio e estupidez” e “não merece mais receber financiamento federal”.
O presidente também ameaçou retirar o status de isenção fiscal, um privilégio universitário que economizou a Harvard cerca de US$ 158 milhões em impostos sobre propriedade em 2023.
“Isso seria ainda mais grave. Instituições de ensino superior não pagam imposto de renda ou imposto predial, e os doadores também recebem deduções fiscais, o que incentiva as doações. Perder essa isenção seria um sinal de alerta para todo o sistema universitário e teria um efeito inibidor”, disse Steven Bloom, vice-presidente assistente de relações governamentais do Conselho Americano de Educação, que representa 1.700 universidades.
Capital secular
Com uma dotação de US$ 53 bilhões, Harvard é a universidade mais rica do mundo, superando em muito outras universidades da chamada “Ivy League”, como Yale, Columbia e Princeton.
Esse capital, que constitui o coração financeiro da instituição, foi construído ao longo dos séculos por meio de doações e investimentos privados.
“Não aconteceu da noite para o dia; é um processo longo. Harvard existe há quase 350 anos. Eles demonstraram uma tremenda capacidade de atrair apoio. Ex-alunos, doadores e muitos outros têm se dedicado profundamente à instituição”, explica Steven Bloom.
O Harvard Endowment funciona essencialmente como um fundo mútuo composto por vários outros fundos, cada um sujeito a condições específicas impostas pelos doadores. Este fundo investe e gera retorno: em 2024 foi de 9,6%, e no ano anterior foi de 2,9%.
E embora essa seja uma quantia astronômica, mais de 80% dela é legalmente restrita a usos específicos, como bolsas de estudo, cátedras, pesquisas médicas, programas acadêmicos ou auxílio financeiro.
Além disso, a instituição desfruta de um superávit de US$ 45 milhões, uma classificação de crédito AAA, US$ 61 bilhões em ativos líquidos e investimentos e acesso a uma linha de crédito rotativo de US$ 1,5 bilhão.
Pesquisa médica
Especialistas ressaltam que a contribuição do governo federal é crucial para a instituição, principalmente na área de pesquisa científica e médica.
“Os fundos federais não vão cobrir o custo da mensalidade, mas sim apoiar sua enorme atividade científica e de pesquisa, como a de muitas grandes universidades”, observa Bloom.
O especialista ressalta que grande parte desses fundos nem vai diretamente para Harvard, mas sim para hospitais afiliados, como o Hospital Geral de Massachusetts, que são legalmente independentes e lideram pesquisas sobre doenças como câncer, AIDS e transplantes de órgãos.
Ele argumenta que a relação entre o Estado e as universidades não se baseia em uma simples lógica de subsídios, mas em uma parceria público-privada que há décadas permite avanços científicos fundamentais para a sociedade.