Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 30 de agosto de 2016
Mais agressiva e mortal forma de câncer de pele, o melanoma faz suas vítimas ao se espalhar para outros órgãos e tecidos do corpo em um processo conhecido como metástase. Há tempos os cientistas sabem que isso só ocorre depois que os tumores originalmente localizados na epiderme, a camada mais externa da pele, invadem a derme, mais profunda, ganhando acesso à rede de vasos sanguíneos que os leva a outras partes do organismo, como cérebro, fígado, pulmões e ossos.
No entanto, um grupo de pesquisadores israelenses e alemães recentemente identificou o mecanismo que as células afetadas por este tipo de câncer, os melanócitos, usam para chegar à derme e cooptar células do local, conhecidas como fibroblastos, para se espalharem pelo corpo. Eles também testaram dois compostos que se mostraram capazes de interromper este processo e que são candidatos promissores ao tratamento da doença.
“A ameaça do melanoma não é o tumor inicial que aparece na pele, mas sua metástase, as células tumorais enviadas para colonizar órgãos vitais como cérebro, pulmões, fígado e ossos”, destaca Carmit Levy, pesquisadora do Departamento de Genética Molecular e Bioquímica Humanas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, e líder do estudo, que foi publicado no periódico científico Nature Cell Biology. “Descobrimos como este câncer se espalha para órgãos distantes e encontramos maneiras de parar o processo antes do estágio metastático”, explicou.
Segundo os cientistas, antes de invadir a derme, os melanócitos cancerosos inundam a região com pequenas vesículas, chamadas melanossomas, contendo moléculas de microRNA, um tipo de código genético não codificante – isto é, que não carrega instruções para a fabricação de uma proteína. Estas moléculas, no entanto, alteram a expressão dos genes dos fibroblastos na derme, ou seja, sua ativação ou inibição. Com isso, os fibroblastos passam a se multiplicar mais rapidamente, migram e apresentam características pró-inflamatórias, todas reações tipicamente vistas neste tipo de células quando associadas ao câncer. Carmit lembra que as surpresas começaram já nas primeiras análises de amostras retiradas de pacientes com melanoma.
Mecanismo de ação.
“Investigamos amostras de melanomas precoces, antes do estágio invasivo, e, para nossa surpresa, encontramos alterações na morfologia da derme, a parte interna da pele, que nunca tinham sido relatadas antes”, conta. “Descobrimos que mesmo antes de o câncer em si invadir a derme, ele envia estas pequenas vesículas contendo moléculas de microRNA. Essas, por sua vez, induzem alterações morfológicas na derme em preparação para receber e transportar as células cancerosas. Então ficou claro para nós que, ao bloquearmos estas vesículas, talvez pudéssemos parar a doença como um todo”, descreveu a cientista.
Sabendo qual o mecanismo usado pelo melanoma para se espalhar pelo corpo, os pesquisadores seguiram à procura de substâncias que pudessem intervir e interromper o processo já nos seus estágios iniciais. Nesta busca, eles identificaram dois compostos, designados SB202190 e U0126. O primeiro inibe o envio das vesículas para a derme, enquanto o segundo previne as alterações morfológicas neste tecido mesmo depois que os melanossomas com o microRNA tenham alcançado a derme. Ambos foram testados com sucesso na bancada do laboratório e agora são candidatos a integrar futuros remédios contra este tipo de câncer.
Diagnóstico precoce.
Além disso, os cientistas ressaltam que tanto as mudanças vistas na derme quanto as próprias vesículas podem servir como poderosos indicativos para o diagnóstico precoce do melanoma, que segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer) deverá atingir 5.670 brasileiros neste ano e matou 1.547 em 2013. Isto é importante porque o melanoma é perfeitamente tratável nas suas fases iniciais. (AG)