Sexta-feira, 13 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 5 de setembro de 2015
Uma pesquisa realizada pelo HCor (Hospital do Coração), em São Paulo, e pelo BCRI (Instituto Brasileiro de Pesquisa Clínica) está avaliando o efeito das estatinas, utilizadas no controle do colesterol para evitar complicações decorrentes de infartos.
Com base em estudos que mostram que o medicamento tem função anti-inflamatória e é capaz de evitar tromboses, os pesquisadores estão fazendo uma antecipação da indicação do remédio: eles estão sendo utilizados em pessoas que chegam a hospitais em fase de ataque cardíaco e não apenas quando o paciente recebe alta.
Iniciado há pouco mais de um ano, o “Secure”, como foi batizado o levantamento, já está acompanhando 2 mil pacientes que foram atendidos em 50 hospitais públicos e particulares do País. Nos próximos dois anos, outros 2,2 mil devem ser avaliados para verificar os benefícios da substância.
“É um estudo com bastante influência para a área clínica. Hoje, a principal causa de morte no mundo são as doenças cardiovasculares. Entre elas, a vilã é o infarto, o popular ataque cardíaco, que é mais comum nas classes sociais menos favorecidas, e isso é uma tendência global, porque 80% dos óbitos no mundo por enfermidades cardiovasculares ocorrem nos países em desenvolvimento. É uma doença que tem um impacto muito grande em relação ao óbito e à incapacidade”, explica Otávio Berwanger, presidente do comitê diretivo do estudo.
Berwanger ressalta que pesquisas em escala menor feitas nos Estados Unidos, na Europa e no Japão já mostraram os benefícios das estatinas para a proteção do coração e das artérias.
“Das medicações de prevenção cardiovascular, a mais importante é a estatina. Já foram feitas várias pesquisas, mas existem projetos em laboratórios e estudos pequenos que sugerem que as estatinas têm outras influências positivas, como propriedades anti-inflamatórias potentes. Quando a pessoa está tendo um infarto, existe grande atividade inflamatória dentro dos vasos do coração. Elas também previnem a formação de coágulos.”
Segundo o especialista, o medicamento pode ainda tornar a angioplastia e a colocação do stent – tubo introduzido em artérias entupidas para a normalização do fluxo sanguíneo – mais seguras, pois, ao proteger os vasos sanguíneos, pode evitar lesões que podem ser causadas pelo procedimento.
O resultado da pesquisa pode, no futuro, alterar a forma de atendimento a pacientes que chegam em hospitais tendo um ataque cardíaco. Isso porque o estudo também é feito em parceria com o PROADI-SUS (Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde. “Acho possível que haja uma mudança na forma de atender o paciente que está tendo um infarto, porque essa parceria com o Ministério da Saúde se dá justamente por questões de interesse público.”
Berwanger também ressalta que o uso não elevaria de forma relevante os custos do tratamento no SUS. “Não é um tratamento caro. Com o uso das estatinas em um paciente de alto risco, há economia de dinheiro, porque é um paciente que vai deixar de ter complicações, não vai ter outro infarto. Além disso, elas já são disponibilizadas nos setores público e privado, só estaríamos antecipando em alguns dias o uso, o que não iria onerar o sistema de forma relevante.” (AE)