Sexta-feira, 21 de novembro de 2025

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Colunistas COP30 em Belém: entre o fogo das negociações e o calor da sociedade civil

Compartilhe esta notícia:

(Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A COP30, realizada em Belém, deveria ter encerrado oficialmente na sexta-feira, 21 de novembro. O cronograma previa o fechamento dos trabalhos nesse dia, mas, como já havia acontecido na COP29 em Baku, as negociações se estenderam.

O documento final — a chamada Decisão Mutirão, que reúne compromissos e diretrizes da conferência — não ficou pronto em tempo. Esse atraso não é apenas burocrático: revela a dificuldade de avançar em pontos centrais, como o abandono dos combustíveis fósseis e a definição de mecanismos de financiamento para países menos desenvolvidos.

O incêndio que atingiu parte da estrutura na quinta-feira, às 14h, foi impactante. Naquele momento, os trabalhos estavam a todo vapor, mas o sinistro suspendeu as atividades, tirou a atenção e esfriou as articulações. Na sexta, a retomada já mostrava sinais de desalento.

O rascunho da Decisão Mutirão retirou questões sensíveis, e tudo indica que a indústria do petróleo comemorará mais uma sobrevida. Ainda assim, como haverá prorrogação, existe a possibilidade de mudanças.

Confesso que vivo um dilema: por um lado, parece que a COP30 fracassou em sua essência, que era ser a “COP da ação”, onde as nações fariam acordos estruturantes para iniciar a implementação de metas e ações. Era esperado que os financiamentos começassem a fluir para países menos desenvolvidos, que terão de pagar caro para manter seus ecossistemas intactos, enquanto nações ricas já devastaram suas florestas para gerar riqueza. Por outro lado, a participação da sociedade civil e da iniciativa privada mostrou que há energia e vontade de mudança.

Experiências pessoais nos espaços paralelos

Na quinta-feira, visitei a AgriZone, instalada na sede da Embrapa Amazônia Oriental. Não poderia haver lugar mais apropriado. Ali assisti a debates e conversei com representantes do agronegócio. Vi práticas voltadas para uma agricultura e pecuária regenerativa, com foco em sustentabilidade. Foi um contraponto interessante às negociações oficiais, mostrando que o setor produtivo também busca alternativas.

Também estive no espaço indígena, conhecido como Aldeia COP, onde pude conversar com lideranças e conhecer iniciativas de preservação cultural e ambiental. A pluralidade de vozes ali presentes reforçou a ideia de que não há solução climática sem protagonismo dos povos originários.

Outro momento marcante foi no Amazon Hub, onde participei de atividades promovidas pela Arayara. Os debates foram de alto nível, abordando transição energética e justiça climática. Já na sexta-feira, a GreenZone estava efervescente, com milhares de visitantes.

Além dos delegados nacionais e internacionais, moradores de Belém puderam respirar o espírito da COP30. Participei de um painel sobre a Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, e aproveitei para falar sobre o Bioma Pampa, um dos mais degradados do país, presente apenas no Rio Grande do Sul. Foi um momento especial, de troca e aprendizado, que sintetizou o verdadeiro espírito da conferência: ação, inclusão e diversidade.

Reflexões e dilemas

As palavras de Ailton Krenak ecoaram em minha mente: “estes eventos são um balcão de negócios”. É verdade que muitas vezes tentamos consertar o planeta com as mesmas ferramentas que o destruíram. Mas também lembro do pragmatismo de José Lutzenberger, que não se limitava às críticas: apresentava soluções e participava ativamente da implantação de melhorias ambientais. Essa lembrança me ajuda a acomodar o dilema interno entre frustração e esperança.

Neste sábado, espero que as nações retomem o espírito da ação e construam resultados práticos. As COPs nunca mais serão as mesmas depois de Belém: a sociedade já despertou para a gravidade da crise climática e cobrará seus governos e corporações quando eventos extremos afetarem vidas. Não imagino que os povos aceitem passivamente governos e empresas mais preocupados com lucros do que com o patrimônio maior: nosso planeta, nossa terra, nosso lar.

Que este sábado seja uma nova etapa e traga a vontade necessária para finalizar a COP30 com resultados que o planeta merece.

* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Arayara: protagonismo ambiental e inovação na COP30
https://www.osul.com.br/cop30-em-belem-entre-o-fogo-das-negociacoes-e-o-calor-da-sociedade-civil/ COP30 em Belém: entre o fogo das negociações e o calor da sociedade civil 2025-11-21
Deixe seu comentário
Pode te interessar