Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 7 de março de 2023
A Coreia do Sul anunciou que deixará de demandar que o Japão pague reparações às vítimas de trabalho forçado durante os 35 anos em que ocupou a Península Coreana, motivo de tensões históricas entre os países. Seul concordou que empresas privadas beneficiadas por um acordo firmado há cinco décadas com Tóquio desembolsarão doações voluntárias para os afetados. A notícia foi bem recebida por Washington, que pressionava para que dois de seus principais aliados fizessem as pazes frente à ascensão chinesa e às ameaças nucleares da Coreia do Norte.
Direto ao ponto: por que a melhora da relação entre Japão e Coreia do Sul interessa aos EUA?
– Os atritos entre Japão e Coreia do Sul remontam à ocupação japonesa na Península Coreana, que terminou em 1945. Sul-coreanos pedem desculpas formais, mas japoneses resistem.
– Em 2018, uma decisão da Suprema Corte sul-coreana de demandar indenização de empresas japonesas que usaram trabalho forçado foi mal recebida por Tóquio e desencadeou uma guerra comercial.
– Um alívio das tensões veio nesta segunda: Seul parou de demandar contribuições de Tóquio e anunciou que empresas sul-coreanas beneficiadas por um acordo prévio com o Japão farão contribuições para um fundo destinado às vítimas de trabalho forçado.
– Para os EUA, o bom relacionamento entre dois de seus grandes aliados no Pacífico é fundamental para conter a ascensão chinesa.
– A reconciliação ocorre ainda sob plano de fundo do acirramento das ameaças nucleares norte-coreanas e seus frequentes testes de mísseis.
– A aproximação, ainda assim, é criticada pelas vítimas, que veem a tentativa de conciliação como uma traição do governo.
O chanceler sul-coreano, Park Jin, disse na segunda que empresas do setor privado sul-coreano serão convidadas a desembolsar contribuições para uma fundação pública direcionada às vítimas de trabalho forçado durante a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que cerca de 150 mil coreanos tenham sido forçados a trabalhar em fábricas e minas japonesas durante os anos do conflito, quando a Coreia do Sul estava sob ocupação japonesa.
As companhias convidadas a pagar serão as mesmas beneficiadas por um pacto de 1965 que normalizou a relação entre os países: o tratado compensou o setor privado sul-coreano e deu a Seul US$ 300 milhões (US$2,9 bilhões em valores de 2023) em assistência econômica e US$500 milhões em empréstimos (US$ 4,8 bilhões atuais). Os recursos importantes para financiar os planos de desenvolvimento de Park Chung-hee, ditador da época.
Os 35 anos de dominação japonesa na Península Coreana, encerrados com o fim da Segunda Guerra, e os crimes cometidos durante o período — como as “mulheres de conforto”, jovens coreanas raptadas por japoneses e forçadas à prostituição — nunca deixaram de pairar sobre o relacionamento nipo-coreano.
Há quase cinco anos, contudo, uma decisão da Suprema Corte sul-coreana fez as relações atingirem seu ponto mais baixo desde os anos 1960. A Justiça sul-coreana determinou em novembro de 2018 que as empresas japonesas Mitsubishi e Nippon Steel & Sumitomo Metal pagassem indenização para 15 pessoas pelo uso de mão de obra escrava durante os anos da ocupação.
O veredicto foi mal recebido pelos japoneses, que afirmam que as questões foram todas resolvidas com a assinatura do tratado de 1965. As vítimas, por sua vez, habitualmente demandam pedidos de desculpas em um processo não muito diferente do que a Alemanha adotou para expiar as atrocidades nazistas, e compensações diretas. O governo de Seul, até agora, endossava o coro.
O dinheiro do novo fundo de US$ 3 milhões será distribuído entre as famílias dos 15 integrantes do processo original. Apenas três deles permanecem vivos, e todos dizem que não aceitarão o dinheiro da iniciativa, segundo a BBC. No entanto, há ainda centenas de ações em curso demandando compensações.
“Não vou aceitar o dinheiro nem que tenha que passar fome”, disse a repórteres Yang Geum-deok, de 94 anos, uma das vítimas. As informações são do jornal O Globo.