Sábado, 02 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2025
Diálogos inéditos do telefone celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, apreendido pela Polícia Federal (PF) em maio de 2023, mostram os bastidores da atuação política do ex-presidente junto ao Congresso Nacional após sua saída do poder, seu relacionamento com empresários e como ele acionava sua rede de contatos para tentar se manter relevante durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A maior parte dos diálogos acessados pela PF, porém, estava restrita a um período de uma semana antes do aparelho celular ter sido apreendido. Conversas anteriores a essa data foram apagadas e não foram recuperadas.
Uma das conversas mostra que o ex-presidente orientou o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) a assinar um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e outros integrantes da Corte.
Lopes procurou Bolsonaro, em mensagem de áudio enviada no dia 26 de abril de 2023, e pediu uma orientação sobre seu posicionamento. “Boa noite, presidente. A galera tá me pressionando aí porque Eduardo, todo mundo assinou essa CPI de abuso de autoridade do TSE e do STF e eu não assinei até agora porque… eu não queria entrar nessa bola dividida, com medo de prejudicar até o senhor mesmo nas decisões lá. O que o senhor acha aí mais ou menos?”, disse.
Bolsonaro respondeu: “Eu assinaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações”. Depois disso, Hélio Lopes afirma: “Já assinei”.
A CPI foi proposta em 2022 pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), com o objetivo de apurar supostos abusos de autoridade do STF e do Tribunal Superior Eleitoral.
No início de 2023, deputados bolsonaristas tentaram ressuscitar a proposta e colher assinaturas, mas até hoje a comissão não saiu do papel. O requerimento de criação da comissão teve mais de 170 assinaturas, número mínimo necessária para a instalação da comissão, mas o pedido está parado com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Na última sexta (25), o deputado Hélio Lopes montou um barraca na Praça dos Três Poderes, próximo ao prédio do STF. Ele colocou esparadrapo na boca e anunciou um protesto contra as medidas judiciais impostas pelo ministro Alexandre de Moraes ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em 2023, Bolsonaro também orientou seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a articular a derrota do projeto de lei das fake news na Câmara. O ex-presidente compartilhou diversas publicações contra esse projeto, que estabelecia diretrizes para a divulgação de conteúdo das redes sociais e combate a notícias falsas. A proposta foi apelidada pelos bolsonaristas de PL da Censura e acabou sendo enterrada pelo então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Israel
O ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, se ofereceu para bancar uma viagem de Jair Bolsonaro ao país em 2023, conforme mensagens de WhatsApp registradas no celular do ex-presidente.
A conversa ocorreu no final de abril daquele ano, dias antes de Bolsonaro ter sido alvo de operação da Polícia Federal por suspeita de fraudes em certificados de vacina. Shelley tinha boa relação com Bolsonaro no período em que foi embaixador de Israel no Brasil, entre 2017 e 2021. Durante seu governo, ele chegou a dizer que o Brasil iria transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, mudança com forte significado diplomático porque significaria o reconhecimento da cidade como capital de Israel e geraria atritos com países árabes. Diante das críticas, Bolsonaro acabou recuando do plano.
As mensagens mostram que o ex-embaixador de Israel manteve contato com o ex-presidente mesmo após ter deixado o posto – ele atualmente está nos Emirados Árabes Unidos. Em 26 de abril de 2023, Shelley enviou a Bolsonaro um vídeo e imagens de uma inovação tecnológica de Israel, um tipo de carne produzido em uma impressora 3D.
Bolsonaro respondeu em mensagem de áudio e transmitiu uma saudação ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu: “Fala Shelley. Realmente é uma revolução né, proteína, carne em 3D. Parabéns aí pra vocês e vamo ver né qual o futuro dessa máquina aí. Um abraço e um abraço aí no nosso amigo Netanyahu”.
Shelley, então, faz um convite ao ex-presidente brasileiro. “Obrigado. Vou falar com ele amanhã. Como vc está? Vem nos visitar?”. Em seguida, ele diz que bancaria a viagem, sem explicar de onde sairiam os recursos – além de ser embaixador, ele também tinha atuação em Israel como empresário. “Vou cuidar de você 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se vc quiser”. (Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)