Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 29 de abril de 2025
Uma criança de 4 anos e outra de 7, ambas com cidadania americana, foram deportadas junto com a mãe para Honduras na semana passada, segundo a advogada da família. O caso se soma a uma recente série de cidadãos americanos pegos no meio da repressão à imigração promovida pelo governo de Donald Trump.
As crianças e a mãe foram colocadas em um voo para Honduras na sexta-feira, no mesmo dia em que outra criança americana, uma menina de 2 anos, foi enviada para o país, também com a mãe — uma imigrante sem documentação. Os advogados das duas famílias afirmaram que as mães não receberam a opção de deixar os filhos nos EUA antes de serem deportadas.
No caso da menina de 2 anos, cujo irmão de 11 anos também foi enviado a Honduras, um juiz federal da Louisiana expressou preocupação com o fato de o governo ter deportado a criança americana contra a vontade do pai, que permaneceu no país.
O czar da fronteira de Trump, Tom Homan, negou que qualquer criança americana tenha sido deportada. Falando sobre o caso da menina de 2 anos no programa “Face the Nation”, da CBS, Homan afirmou neste domingo que agentes federais de imigração deram à mãe a escolha de ser deportada com ou sem a filha, e que ela saiu do país com a menina por decisão própria.
As crianças pertencem a duas famílias diferentes que viviam na Louisiana. A mãe da criança de 2 anos está grávida, e o menino de 4 anos tem uma forma rara de câncer em estágio avançado, segundo os advogados das famílias, acrescentando que o menino não teve acesso a seus medicamentos ou médicos enquanto esteve sob custódia, junto com sua irmã de 7 anos e a mãe.
As ações ocorrem enquanto o governo Trump intensifica a repressão à imigração e os esforços de deportações em massa. Na Flórida, na semana passada, quase 800 imigrantes foram presos em uma operação que envolveu agentes do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA) e policiais estaduais.
Defensores dos direitos dos imigrantes e a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) condenaram as ações do governo, levantando preocupações sobre a falta de devido processo legal.
— O que vimos do ICE nos últimos dias é horrível e desconcertante — disse Gracie Willis, advogada do National Immigration Project que atua no caso da menina de 2 anos.
Mas o governo manteve sua posição. “Ter um filho cidadão americano depois de entrar ilegalmente no país não é um passe livre para sair da prisão”, disse Homan.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, também defendeu a política migratória no domingo, insistindo que o governo havia deportado apenas as mães nos dois casos, e não as crianças.
— As crianças foram com as mães — disse ele no programa “Meet the Press”, da NBC. — Essas crianças são cidadãs americanas. Elas podem voltar aos Estados Unidos se o pai ou alguém quiser assumir a guarda.
O Departamento de Segurança Interna não respondeu imediatamente a um pedido de comentário no domingo.
Ambas as famílias foram detidas no início da semana passada durante check-ins de rotina com o ICE. Elas participavam do Intensive Supervision Appearance Program, um programa de liberdade condicional que permite que pessoas em processo migratório permaneçam no país.
A menina de 2 anos e sua mãe, junto com um irmão de 11 anos que não é cidadão americano, foram detidos em 22 de abril. A família das crianças de 4 e 7 anos foi detida na manhã de quinta-feira, segundo Erin Hebert, advogada da família.
Quando foram detidas, as famílias foram levadas para locais a horas de distância de Nova Orleans, onde tinham seus compromissos, segundo seus representantes legais, que acrescentaram que elas foram proibidas de se comunicar com outros familiares ou advogados. Os representantes disseram que só conseguiram contato com as mães depois que elas já estavam em Honduras.
Erin afirmou que esteve presente no compromisso da família que representa, mas que todos foram levados sob custódia rapidamente, antes que ela pudesse conversar com eles. Ela disse que sua equipe pretende contestar a deportação da família, mas ainda está avaliando os próximos passos.
Em uma decisão breve emitida na sexta-feira pelo Tribunal Distrital Federal no Distrito Oeste da Louisiana, o juiz Terry A. Doughty questionou por que o governo havia enviado a menina de 2 anos — identificada nos autos apenas como V.M.L. — para Honduras com a mãe, mesmo com o pai tendo solicitado, por meio de um pedido de emergência na quinta-feira, que a criança não fosse enviada para fora do país.
O juiz Doughty, indicado por Trump, disse ter uma “forte suspeita de que o governo simplesmente deportou uma cidadã americana sem um processo” e marcou uma audiência para 16 de maio para examinar a questão.
— Nunca vi nada parecido — disse Erin. — Não há nenhuma interpretação de boa-fé para o que aconteceu com essas crianças. As informações são do portal O Globo.