Sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de novembro de 2025
Estados e municípios que aplicaram recursos previdenciários no Banco Master podem perder quase R$ 2 bilhões após a liquidação da instituição, segundo dados do Ministério da Previdência. Ao todo, 18 entes federativos aplicaram recursos de seus Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) em letras financeiras emitidas pela instituição – aplicações que agora estão diretamente expostas ao processo de liquidação.
O valor total comprometido chega a R$ 1,86 bilhão, indicando um risco significativo para sistemas que dependem desses recursos para o pagamento de aposentadorias e pensões de servidores públicos.
O caso mais crítico é o do Estado do Rio de Janeiro, cuja unidade gestora do RPPS concentra quase metade de toda a exposição ao Banco Master, com R$ 970 milhões aplicados. Mesmo após a decretação da liquidação do conglomerado, o Rioprevidência, responsável pelo pagamento de aposentadorias e pensões a 235 mil servidores inativos, afirmou que os benefícios estão assegurados e não correm risco no curto prazo.
Especialistas, no entanto, alertam que o impacto real tende a aparecer no médio e longo prazo. A perda de parte desses recursos pode comprometer o equilíbrio atuarial do fundo, pressionar o caixa do Estado e exigir medidas adicionais para garantir a sustentabilidade do regime.
“No caso do Rioprevidência, o caminho será ingressar na massa falida e tentar recuperar parte dos valores por meio do liquidante. É um processo demorado, incerto, e que costuma resultar na recuperação de apenas uma fração do montante original”, explicou Antônio Maciel, contador e embaixador da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), em entrevista ao Podcast do Correio.
Em situações como essa, o rombo pode acabar sendo coberto pelo Tesouro estadual, aumentando despesas permanentes justamente em um momento de forte restrição fiscal. “Diante desse cenário, servidores do Rio de Janeiro devem acompanhar de perto os desdobramentos da liquidação, já que eventuais perdas no fundo podem ter reflexos futuros na saúde financeira do regime previdenciário”, recomendou Maciel.
Maiores aportes
Na sequência dos maiores aportes aparecem o Estado do Amapá, com R$ 400 milhões aplicados, e o município de Maceió (AL), que destinou R$ 97 milhões às letras financeiras do Master. Logo depois vêm São Roque (SP), com R$ 93,15 milhões, e Cajamar (SP), que investiu R$ 87 milhões. Araras (SP) completa o grupo dos principais aplicadores, com R$ 29 milhões expostos.
Há ainda outros entes com valores relevantes expostos ao risco da liquidação: Itaguaí (RJ) investiu R$ 59,6 milhões, o Estado do Amazonas destinou R$ 50 milhões, e Aparecida de Goiânia (GO) aplicou R$ 40 milhões.
Na faixa intermediária estão Congonhas (MG), com R$ 14 milhões, além de Santo Antônio de Posse (SP) e Fátima do Sul (MS), ambos com R$ 7 milhões. Jateí (MS) aparece com R$ 2,5 milhões, ao lado dos municípios de Angélica (MS) e Santa Rita D’Oeste (SP), cada um com R$ 2 milhões.
Entre os menores aportes está o de São Gabriel do Oeste (MS) e o de Paulista (PE), ambos com R$ 3 milhões, e o menor de todos foi o de Campo Grande (MS), com R$ 1,2 milhão aplicado.
Segurança e liquidez
A dimensão das cifras acende um alerta sobre a governança e a política de investimentos dos regimes próprios, que, por lei, devem priorizar segurança e liquidez na alocação dos recursos previdenciários. Agora, com o Banco Marter retirado do sistema financeiro e sob administração de um liquidante, esses entes entram na fila de credores, sem garantia automática de ressarcimento, já que o FGC não cobre letras financeiras.
A expectativa é de que o Ministério da Previdência e os órgãos de fiscalização reforcem o acompanhamento dos casos nas próximas semanas, enquanto os gestores dos RPPS buscam avaliar o impacto real das perdas sobre o equilíbrio atuarial dos fundos. (Com informações do Correio Braziliense)