Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2025
Poucos apostariam que o Brasil traria a pauta do afastamento dos combustíveis fósseis para o centro do debate na Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas. Ao defender que os países debatam como encaminharão o fim da dependência dos combustíveis fósseis, e ao reconhecer as contradições sobre o tema em seu próprio governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva relançou um tema que estava esquecido sob a mesa desde 2023, em meio a um contexto de retomada de guerras no mundo e de crise do multilateralismo.
A COP28, em Dubai, chegou à histórica decisão de que a humanidade precisa “se afastar” dessas fontes poluentes.
“Agora, voltamos a falar sobre como a gente vai fazer esse caminho para longe dos combustíveis fósseis. Faltava a gente falar desse assunto”, frisa André Castro Santos, diretor técnico da organização LaClima
“Eu tenho a impressão de que se o Lula trouxe o mapa do caminho para a sua fala, é porque ele sente apoio suficiente para colocar essas fichas na mesa. Se ele não tivesse as boas cartas para jogar, não sei se ele teria colocado essas fichas logo no primeiro dia”, aposta o especialista em regime internacional de mudanças climáticas.
Energias renováveis
O presidente brasileiro afirmou que “é hora de levar os alertas da ciência a sério” e de “decidir se teremos a coragem e a determinação necessárias” para promover a transição energética.
Ele cobrou os países a cumprirem o compromisso de triplicar as energias renováveis e dobrar a matriz energética até 2030.
Claudio Angelo, analista de políticas climáticas internacionais do Observatório do Clima, acrescenta ainda a menção ao fim do desmatamento, também salientada pelo presidente brasileiro na sua fala na abertura do evento, na quinta-feira (6).
Para ele, a Cúpula do Clima conseguiu dar um impulso político às negociações diplomáticas, que começarão oficialmente na segunda-feira (10).
“É melhor do que a gente esperava. A gente chegou numa COP com um ambiente internacional horrendo, e a gente vai começá-la com um sinal político do anfitrião de que nós precisamos de dois mapas do caminho para discutir as duas causas do aquecimento global – que nem estão na agenda desta COP”, observa Ângelo.
Cobranças de ONGs
O tom foi semelhante entre muitas das ONGs que acompanharam o evento em Belém. A coordenadora da Resource Justice Network para a América Latina, Laura Montaño, disse que as falas de Lula “marcaram um impulso promissor no debate global sobre os combustíveis fósseis”.
A CAN (Climate Action Network), uma das mais respeitadas entidades internacionais, salientou que os países “chegam à COP de mãos vazias” e que nenhum dos envolvidos mencionou “como vai fazer a saída” dos combustíveis fósseis.
“Eles tiveram a chance de fazer isso, nas suas NDCs [Contribuições Nacionalmente Determinadas], com planos realistas. Mas, em vez disso, reconduziram a crise climática.”
As 196 nações integrantes da Convenção do Clima deveriam entregar em 2025 seus novos compromissos climáticos, no horizonte de 2035 – mas pouco mais de um terço delas atualizou suas metas. Para piorar, os projetos apresentados vão na direção de uma queda insuficiente das emissões globais de gases de efeito estufa.
Apenas 30 chefes de Estado e de Governo estiveram na Cúpula em Belém, realizada pela primeira vez em datas separadas da Conferência da ONU sobre o tema e afetada por dificuldades de logística.
Entre os presentes, estavam o francês Emmanuel Macron, o britânico Keir Starmer, o sul-africano Cyril Ramaphosa e o colombiano Gustavo Petro – autor do discurso mais veemente contra a inação dos governos pelo mundo no combate à crise climática.
China
A China, maior emissora de gases de efeito estufa, enviou a Belém um representante de segundo escalão, o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang. Em um discurso sucinto, ele pregou o fim dos entraves comerciais para a expansão das energias renováveis no mundo.
Pequim é a principal motora da implementação da transição energética, sendo a responsável pela despencada dos custos de painéis solares, baterias e outros equipamentos.
“Para eles, isso tudo é business. Os chineses entenderam que já estão ganhando dinheiro e têm mais a ganhar com a transição”, resume o especialista do Observatório do Clima. “Por mais frustrante que seja o seu discurso e a própria NDC dela, continuar tendo a China a bordo não é pouca coisa no mundo em que a gente vive hoje”, aponta Ângelo.
A fraca presença de lideranças, entretanto, não significa uma ameaça aos resultados finais da COP, salientam os especialistas. O governo brasileiro confirmou que 191 estão credenciados para participar das duas semanas de negociações, o que garante o quórum para decisões formais, em 22 de novembro. (As informações são do g1)