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Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2018
Dados mais recentes divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram que, desde o início da crise econômica que vem deteriorando o mercado de trabalho brasileiro, 3,3 milhões de pessoas desistiram de procurar emprego no País. É como se, em quatro anos, toda a população do Uruguai ou de Estados como o Amazonas decidisse cruzar os braços.
A situação parece ser um contrassenso, já que frente a um cenário de grave recessão econômica seria natural que pessoas que não trabalham – seja porque se dedicam exclusivamente aos estudos ou aos cuidados com filhos, por exemplo – saíssem em busca de emprego para ajudar a compor a renda familiar. Mas, a baixa perspectiva de se conseguir uma vaga e a longa fila de espera fez o Brasil alcançar o recorde de desalentados.
Desalento é o termo utilizado para designar a situação de quem está em idade ativa e em condições de trabalhar, mas por questões diversas não busca emprego. Os dicionários apresentam o desalentado como sendo um indivíduo desanimado, desencorajado e sem vontade de agir.
No 2º trimestre de 2014, havia no mercado de trabalho brasileiro 1,5 milhão de desalentados. De acordo com o IBGE, foi o menor número de pessoas nesta condição desde 2012, quando tem início a série histórica da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Foi naquele período que o País começou a sair do chamado pleno emprego, alcançado em dezembro de 2013, e a entrar na maior crise econômica de sua história recente. Desde então, o número de desalentados subiu vertiginosamente até atingir 4,8 milhões de pessoas no 2º trimestre deste ano – o maior número desde que o IBGE começou a fazer o levantamento – o que corresponde a um aumento de 227% neste período.
De acordo com o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, vários fatores levam uma pessoa a integrar o grupo dos desalentados. Num período de crise econômica, porém, a própria perda do poder aquisitivo contribui para o aumento desta população. “Muitas dessas pessoas desalentadas sequer têm dinheiro para pagar passagem e procurar emprego. Mas se você oferecer [uma vaga de emprego], elas vão aceitar e vão poder assumir”, disse o pesquisador.
Também contribui para o aumento do desalento, segundo Azeredo, a percepção subjetiva da população em relação ao mercado de trabalho. “A dificuldade de outros integrantes da família de conseguir uma vaga, ou mesmo as notícias na mídia sobre o desemprego elevado já influenciam a percepção das pessoas sobre a dificuldade de se conseguir um emprego”, apontou.
Mas o desânimo para procurar emprego tem relação direta também com a fila do desemprego. Dos 13 milhões de desempregados no Brasil no 2º trimestre deste ano, 3,1 milhões buscavam uma oportunidade no mercado há mais de dois anos – o maior contingente do chamado desemprego de longo prazo desde 2012.
Nordeste concentra 60% dos desalentados
Dos 4,8 milhões de desalentados no País, 2,9 milhões estão no Nordeste, segundo o IBGE, o que corresponde a 60% do total de brasileiros nesta condição. O Sudeste, região mais populosa do Brasil, aparece em segundo lugar, com 1 milhão de desalentados (20% do total). O Sul, por sua vez, concentra o menor contingente – 194 mil pessoas (4%).
Dentre os Estados com maior número desalentados, a Bahia se destaca com quase 600 mil pessoas nesta situação – o que equivale a 20% do total de pessoas em condição de desalento no Nordeste. O número supera, e muito, o de São Paulo (384 mil) e de Minas Gerais (296 mil), Estados com as maiores populações do País.