Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de maio de 2018
Todas as atenções se voltaram neste fim de semana para o mais recente casamento da família real britânica, mas, no mundo corporativo, outro noivado tem alimentado expectativas nos últimos meses: a união entre a americana Boeing e a brasileira Embraer. A combinação de negócios — cujas tratativas já estão avançadas — é o caminho mais curto para a Boeing garantir a manutenção da liderança global no mercado de aviões diante das perspectivas de crescimento da demanda do setor nas próximas duas décadas.
Relatório da própria gigante americana sobre o potencial do mercado mundial aponta que as companhias aéreas vão precisar de mais de 41 mil novas aeronaves até 2036, o que representaria US$ 6,1 trilhões em negócios.
Num segmento altamente concentrado, a Boeing adotou a estratégia de fazer “aquisições precisas” — como define o diretor executivo, Dennis Muilenburg — para ampliar a capacidade de produção e o seu portfólio. E a união com a Embraer se encaixa perfeitamente nesse plano. Os executivos da Boeing têm sido econômicos ao falar na negociação, mas, em comunicado, a empresa explica por que quer tanto levar a brasileira ao altar:
“Acreditamos que a combinação com a Embraer é uma situação de ganho mútuo que resultará em maior crescimento e oportunidade para ambas as empresas. Vemos forte valor estratégico e sinergia clara em diversas áreas”, diz um trecho da nota da Boeing, sempre destacando que a aquisição é estratégica, mas não “uma necessidade”.
Segundo uma fonte envolvida nas conversas, já se planeja uma mudança na forma como a negociação será apresentada ao mercado. O conselho da fabricante brasileira teria de anunciar sua posição primeiro, o que é esperado para os próximos dias. E só depois o governo daria seu aval à transação, diz a fonte.
Maior demanda
A Embraer é a terceira maior fabricante de aviões do mundo, atrás de Boeing e da europeia Airbus, com 16 mil funcionários e receita próxima de US$ 6 bilhões em 2017. A centenária e gigante americana tem 140 mil colaboradores e sua receita bateu US$ 93,4 bilhões no ano passado. A diferença de porte entre as companhias não diminui o valor estratégico da Embraer para a Boeing no caminho para a americana assegurar uma fatia ainda maior da expansão do setor prevista até 2036.
Mais da metade dos 41 mil novos aviões a serem construídos estará no segmento de single-aisle (corredor único), com 29.530 aeronaves, o suficiente para movimentar US$ 3,18 trilhões. É o segmento onde a concorrência entre os fabricantes é mais acirrada.
Como Airbus e a canadense Bombardier — concorrente direta da Embraer — já selaram a sua união, o casamento entre a americana e a brasileira seria bom para as duas. O nicho de sucesso da Embraer é o de aviões com até 150 lugares, modelos que a Boeing não produz. A demanda estimada para jatos regionais é de mais 2.370 aviões até 2036.
“Essa complementariedade de portfólios é o principal atrativo da companhia brasileira aos olhos da Boeing”, diz Adalberto Febeliano, engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, acrescentando que não há sobreposição entre os modelos produzidos pelas duas empresas, que negociam formalmente desde dezembro a união dos negócios.
O interesse de entrar no mercado de aviões pequenos ganhou força após a Airbus ter estreado no segmento com a compra da participação majoritária do programa C-Series da canadense Bombardier. Outro fator que chama a atenção da Boeing para o negócio é o corpo de 5,5 mil engenheiros da brasileira.
“Essa equipe demonstrou, com o desenvolvimento eficiente e rápido da família de jatos E-2, capacidade de realização. Somado à importância comercial do segmento de jatos regionais, que cresceu após a aquisição da Airbus, o ativo humano torna-se um dos principais atrativos”, avaliou Marcelo Vitali, diretor da consultoria internacional Orbiz, do setor aeroespacial.
O consultor americano Stephen Trimble, da consultoria FlightGlobal, lembra ainda que os engenheiros da Boeing estão mais velhos, e centenas deles devem se aposentar nos próximos anos. Para ele, acessar o amplo quadro de empregados já capacitados para tirar qualquer projeto da prancheta da Embraer seria solução fácil para o problema da americana.
Em 2017, a Boeing produziu uma média de 63 aviões por mês em suas três fábricas nos EUA. A carteira de encomendas atual soma 5.838 pedidos. A maior fatia está na família 737, com 4.673 encomendas.