Quarta-feira, 24 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de janeiro de 2016
Em delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse ter participado de “reuniões periódicas” no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, nas quais eram discutidos “recebimento e repasse de propinas” na BR Distribuidora. O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso por tentativa de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato, era um dos participantes dos encontros pois tinha “ascendência grande” sobre José de Lima Andrade Neto, presidente da subsidiária da Petrobras na ocasião.
Neto ficou à frente da BR Distribuidora de 2009 até setembro do ano passado, quando, em meio ao avanço das investigações, renunciou ao cargo alegando motivos de saúde. Segundo Cerveró, participavam das reuniões, além dele e de Delcídio, o ex-ministro Pedro Paulo Leoni e o então diretor da BR Distribuidora José Zonis. Leoni, conhecido como PP, era o “operador” do senador Fernando Collor (PTB-AL) na subsidiária da Petrobras.
As reuniões eram mensais e aconteceram entre 2010 e 2013. Conforme Cerveró, depois das eleições foi feita uma reunião de “acerto geral” no hotel Leme Palace no Rio. Participaram diretores da BR e Delcídio, Leoni, e o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Na ocasião, ficou acertado pagamento de propina à bancada do PT na Câmara dos Deputados, com repasses a cinco deputados federais na época, entre eles Jilmar Tatto, atual secretário da prefeitura de São Paulo.
Ex-diretor da Petrobras diz que Lula lhe deu cargo na BR Distribuidora por “gratidão”
Oex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró disse, em depoimento de delação premiada, que foi alçado ao cargo de diretor da BR Distribuidora – subsidiária da estatal – devido a um ato de “gratidão” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o ex-executivo, a troca foi feita pelo fato de ele ter ajudado o Grupo Schahin a vencer uma licitação para o aluguel de um navio-sonda para a Petrobras.
O negócio é apontado pelo MPF (Ministério Público Federal) como uma forma de pagamento por parte do PT a um empréstimo de 12 milhões de reais feito para o pecuarista José Carlos Bumlai.
O dinheiro, repassado pelo Banco Schahin, teria sido usado para pagar dívidas do PT. O negócio rendeu a Schahin mais de 1 bilhão de reais. Em depoimento, o pecuarista confirmou a fraude, mas negou que o ex-presidente Lula tivesse conhecimento dos fatos. O caso levou Bumlai à cadeia por suspeita de corrupção. Ele já responde a um processo sobre isso e permanece preso em Curitiba (PR).
Na delação, Cerveró disse que conseguiu continuar na estrutura da Petrobras graças à intermediação desse negócio. Segundo ele, foi o próprio ex-presidente quem decidiu indicá-lo para o cargo na BR Distribuidora.
O ex-diretor também afirmou que, entre 2010 e 2013, participou de várias reuniões com políticos para tratar de propinas desviadas da Petrobras.
Cerveró afirma que o presidente do Senado reclamou de falta de propina
Oex-diretor da Petrobras e da BR Distribuidora Nestor Cerveró afirmou em depoimento de sua delação premiada que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), reclamou pessoalmente de não receber propina da BR Distribuidora. Segundo Cerveró, a cobrança aconteceu em 2012 no gabinete do próprio senador, em Brasília. O ex-diretor afirmou que Calheiros, inclusive, afirmou que não lhe prestaria mais apoio político a partir daquela data.
“Que em 2012 o declarante foi chamado ao gabinete de Renan Calheiros no Senado Federal; que na ocasião Renan Calheiros reclamou da falta de repasse de propina por parte do declarante; que o declarante explicou que não estava arrecadando propina na BR Distribuidora; que, então, Renan Calheiros, disse que a partir de então deixava de prestar apoio político ao declarante”, registra o depoimento de Cerveró. Ele contou aos investigadores que, em 2009, em uma reunião, o então presidente da BR Distribuidora, José de Lima Andrade Neto, foi “bastante didático” explicando em quais áreas da empresa seria possível acreditar propina. Segundo o relato, Calheiros, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e Pedro Leoni Ramos, ex-ministro e apontado como representante do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), participaram da reunião.