Sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de junho de 2021
Documento protocolado na entidade detalha comportamentos abusivos. (Foto: Leandro Lopes/CBF/Arquivo)
O presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi formalmente acusado de assédio moral e sexual por uma funcionária da entidade. A denúncia foi protocolada na sexta-feira (4) na Comissão de Ética da CBF e na Diretoria de Governança e Conformidade. Os abusos teriam ocorrido contra a funcionária, que detalhou episódios vividos por ela desde abril do ano passado. No documento, ela afirma ter provas de todos os fatos narrados e pede que o dirigente seja investigado e punido com o afastamento da CBF e, também, pela Justiça Estadual.
Entre os fatos narrados por ela estão constrangimentos sofridos em viagens, reuniões com o presidente e na presença de diretores da CBF. Na denúncia, a funcionária detalha o dia em que o dirigente, após sucessivos comportamentos abusivos, perguntou se ela se “masturbava”.
Entre outros episódios de extrema gravidade, segundo a funcionária, Caboclo tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro, chamando-a de “cadela”.
O acusado respondeu através de seus advogados. “A defesa de Rogério Caboclo responde que ele nunca cometeu nenhum tipo de assédio. E vai provar isso na investigação da Comissão de Ética da CBF”, informaram.
A funcionária afirma ainda que ela teve sua vida pessoal exposta diante de outros funcionários, com narrativas falsas criadas pelo presidente acerca de supostos relacionamentos que teria tido no âmbito da CBF. Parte destes episódios teriam acontecido em reuniões que tinham a presença de todos os diretores da entidade. A denúncia diz ainda que os abusos eram de conhecimento de outros diretores.
“Tenho passado por um momento muito difícil nos últimos dias. Inclusive com tratamento médico. Hoje apresentei uma denúncia ao Comitê de Ética do Futebol Brasileiro e à Diretoria de Governança e Conformidade, para que medidas administrativas sejam tomadas”, disse a funcionária.
Segundo afirma na denúncia, durante todo o período em que os abusos ocorreram, o presidente estava sob efeito de álcool. No documento, ela relata pedidos de Caboclo para que ela escondesse bebidas em lugares previamente combinados, para que o dirigente pudesse beber ao longo do expediente.
Crise na entidade
Embora a denúncia tenha sido oficializada nesta sexta, o assunto já era de conhecimento de todos os diretores e vice-presidentes da CBF há pelo menos 45 dias, quando a funcionária, que faz parte do time de cerimonialistas da entidade, relatou para colegas e superiores que vinha sendo assediada pelo presidente.
Entretanto, nada foi feito em relação ao tema, uma vez que o relato não havia sido formalizado. No mesmo dia em que informou sobre o caso, a funcionária também mostrou a pessoas próximas algumas das provas que tinha, mas preferiu não formalizar a queixa. Ela também pediu afastamento de suas atividades por motivos de saúde.
Considerada de perfil discreto e reservado, a funcionária está na CBF desde 2012. Foi contratada para trabalhar na recepção e, posteriormente, promovida para o setor de cerimonial. Tida como extremamente profissional, ela é querida entre colegas, diretoria e parceiros da entidade que circulam com frequência pelo prédio. Desde que se licenciou, ela tem ficado reclusa e se limitado a falar com seus advogados e familiares.
Antes da convocação do dia 14 de maio, Caboclo chegou a reunir a comissão técnica de Tite para dar sua versão dos fatos. Mas o clima de desconfiança entre o presidente e a comissão permanece.
Nesta semana, o dirigente conversou com os jogadores da Seleção sobre a decisão de mudança da sede da Copa América para o Brasil.
“Temos uma opinião muito clara e fomos lealmente, numa sequência cronológica, eu e Juninho, externando ao presidente a nossa opinião. Depois, pedimos aos atletas para focarem apenas nos jogos. Na sequência, solicitaram uma conversa direta ao presidente. Foi uma conversa muito clara, direta. A partir daí, a posição dos atletas também ficou clara, mas não vamos externar isso agora. Temos a prioridade de jogar bem e ganhar os próximos dois jogos. Depois disso, vou externar a minha posição”, disse Tite.
Veja as punições previstas pelo Código de Ética e Conduta da CBF:
As violações ao Código pelas pessoas a ele submetidas, ou as infrações de quaisquer outras regras e regulamentos da CBF, das Federações, das Ligas e dos Clubes são passíveis de punição, cumulativas ou não, das seguintes sanções:
– Advertência;
– Multa de até R$ 500.000,00;
– Prestação de trabalho comunitário;
– Demissão por justa causa;
– Suspensão, por até 10 anos;
– Proibição de acesso aos estádios, por até 10 anos;
– Proibição de participar de qualquer atividade relacionada ao futebol, por até 10 anos;
– Banimento.
A Comissão de Ética poderá recomendar ao órgão apropriado da CBF que proceda notificação às autoridades policiais e judiciais competentes.