Quarta-feira, 08 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de fevereiro de 2020
O deputado estadual Capitão Paulo Teixeira (Republicanos) pediu à prefeitura do Rio de Janeiro que ordene a retirada de uma peça da exposição Cine Desejo, no Centro Cultural Hélio Oiticica, que ilustra a Virgem Maria com um seio nu e um órgão masculino, com a inscrição “Deus acima de tudo, gozando acima de todos”.
Na quarta-feira (19), o também parlamentar Márcio Gualberto (PSL), ligado à igreja católica, já havia se posicionado sobre o quadro, pedindo, nas redes sociais e em plenário, explicações à casa cultural e ao município.
“O espaço, da Secretaria Municipal de Cultura do Município, dedicado à diversidade da produção artística contemporânea, exibe um absurdo escárnio da fé cristã. Um ultraje aos símbolos religiosos e até mesmo a valores caros ao Presidente da República. Isso é liberdade de expressão? Vou pedir explicações aos responsáveis pelo espaço e à Prefeitura do Rio de Janeiro”, afirmou Gualberto em sua rede social, em texto acompanhado de um vídeo onde ele visita a peça na exposição.
O Centro Cultural Hélio Oiticica informou que uma equipe da secretaria municipal de Cultura esteve no espaço e pediu que a classificação, que era de 10 anos, fosse mudada para 16 anos. As peças ainda estão na exposição.
“Não se trata de censura. A lei não permite censura. Mas também não permite que se cometa vilipêndio ao sentimento religioso, seja qual for a crença: católico, espírita, evangélico…”, disse Paulo Teixeira, que encaminhou um pedido a Crivella para que ordene a retirada do quadro.
Funcionários do Centro Cultural Hélio Oiticica informaram que uma equipe da secretaria municipal de Cultura esteve no espaço nesta quinta-feira pela manhã e pediu que a classificação, que era de 10 anos, fosse mudada para 16 anos. As peças ainda estão na exposição. Por enquanto, o Centro Cultural informa que não recebeu qualquer determinação para retirá-las.
O também parlamentar Márcio Gualberto (PSL), ligado à igreja católica, já havia pedido, nas redes sociais e em plenário, explicações à casa cultural e ao município.
Queermuseu
Não é a primeira vez que uma exposição de arte causa polêmica. Em setembro de 2017, em Porto Alegre, a mostra”Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” provocou polêmica e debates sobre a liberdade de expressão, e chegou a ser fechada.
Um mês depois, a Queermuseu foi vetada pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que gravou um vídeo afirmando que os planos de levar a exposição “de pedofilia e zoofilia” para o Museu de Arte do Rio (MAR) não iriam adiante. “Só se for no fundo do mar”, afirmou à época.
Em agosto de 2018, a remontagem da exposição na EAV (Escola de Artes Visuais) foi possibilitada pela maior campanha de financiamento coletivo do País, idealizada pelo diretor da instituição, Fabio Szwarcwald. O crowdfunding captou mais de R$ 1 milhão de quase 1,7 mil pessoas e contou com a venda de obras de arte doadas por 70 artistas e show de Caetano Veloso para levantar recursos.
Foram “11 meses de tormenta”, diz o curador Gaudêncio Fidelis à BBC News Brasil, até que a exposição pudesse ser de fato exposta ao público.
“Isso que a gente chama de polêmica é o resultado de uma investida muito específica que começou com o MBL (Movimento Brasil Livre) e criou uma narrativa falsa para a exposição”, afirmou o curador gaúcho.
Para Fidelis, o processo foi uma batalha em favor de liberdades individuais e contra “investidas obscurantistas”.
“Grandes parcelas da sociedade entenderam que é possível empreender e vencer uma luta pelos valores democráticos. Acho que esse é o principal legado que a exposição deixa hoje”, disse Fidelis.
Um dos líderes do MBL, Kim Kataguiri, afirmou à BBC News Brasil que o grupo defende a liberdade de expressão e protestou contra a Queermuseu pelo mau uso de dinheiro público, via isenção fiscal, para algo “que não representa a maior parte dos valores da sociedade” e porque crianças estavam sendo levadas para a exposição por escolas “sem a anuência dos pais”.