Sexta-feira, 07 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de março de 2019
Dez minutos depois de deputados do PSOL e outros partidos de esquerda começarem um ato em homenagem a Marielle Franco, colegas de direita entraram no mesmo Salão Verde da Câmara para protestar contra a violência animal. Oito deputados federais, entre eles Daniel Silveira (PSL-RJ), que rasgou a placa com o nome de Marielle, posicionaram-se a poucos metros com caixas de som que emitiam latidos.
Sorridentes, eles posaram para fotos segurando cartazes pedindo reclusão para perpetradores de maus-tratos e o desenho de um cachorro. “Lugar de bandido é na cadeia. O que nós queremos é o fim da impunidade”, disse Fred Costa (Patriota-MG), que organizou o ato, segundo ele, na véspera. “Vamos fazer um minuto de silêncio por todos os animais que lamentavelmente são maltratados ou sacrificados.”
Nesta quinta-feira (14), a execução da vereadora carioca Marielle (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes completa um ano. Na terça-feira (12), dois suspeitos de executar o crime foram presos. A polícia ainda investiga o eventual mandante. No mesmo dia, o PSOL marcou o ato no Salão Verde e o divulgou em redes sociais e na Câmara. “Não existe milícia sem Estado. O Estado tem sangue nas mãos”, discursou a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), amiga e aliada de Marielle.
“Isso é importante dizer porque a milícia domina território, dá cinco tiros na cabeça de jovem no Rio de Janeiro e tem poder econômico, político e armado”, prosseguiu. “O Estado brasileiro precisa devolver ao povo a possibilidade de lutar pelo aprofundamento da democracia.”
Alguns manifestantes choravam. Faixas com o vulto da vereadora e a pergunta: “Quem mandou matar Marielle?” foram erguidos. Os cachorros às vezes incomodam, declarou Daniel Silveira logo ao lado, “mas no segundo seguinte estão abanando o rabo, por isso não tem por que você maltratar um animal”.
O deputado ficou conhecido pela foto com o hoje governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), em que rasgam a placa de rua com o nome de Marielle em meio aos protestos contra o seu assassinato, no ano passado. “Eu nem sabia da homenagem à Marielle”, disse, negando motivos para constrangimento. “Na verdade eu me senti incomodado porque eu sabia que eles iam distorcer o fato dos latidos como se estivéssemos zombando deles.”
Os apoiadores de Marielle em nenhum momento se dirigiram aos manifestantes contra violência animal e vice-versa. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) comentou a sobreposição de protestos. “Uma provocação inútil, que mostra que eles não estão aguentando as investigações chegarem perto deles e as milícias próximas ao partido dele”, afirmou.