Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 18 de novembro de 2022
No mesmo dia em que a COP27, a conferência ambiental da ONU, deveria chegar ao fim, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou dados mostrando que a área desmatada na Amazônia nos dez primeiros meses do ano chegou a quase 10 mil km² — ou seja, mais de seis vezes a cidade de São Paulo. É o segundo pior acumulado dos últimos 15 anos, apenas marginalmente inferior ao recorde registrado no ano passado.
Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, que monitora a floresta por imagens de satélite desde 2008, refletem o agravamento da destruição do bioma nos últimos quatro anos, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. Sua divulgação coincide também com a promessa de uma guinada na política ambiental brasileira, reforçada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante sua visita à COP27, que neste ano acontece na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh.
Entre janeiro e outubro, a área desmatada na Amazônia Legal foi de 9.696 km², cerca de 0,5% a menos que os 9.742 km² registrados em 2021. A área é quase o dobro dos 4,5 mil km² registrados durante o mesmo período em 2018. Entre 2008 e 2017, o desmate na região só havia ultrapassado 3 mil km² em uma ocasião, em 2016.
O número é um prenúncio para os dados compilados do preciso sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o último ano fiscal, medido entre agosto de 2021 e julho deste ano. Geralmente divulgados em agosto, os dados estão prontos desde o mês passado, mas estão bloqueados para só serem lançados após a COP. O mesmo aconteceu no ano passado, quando o desmate medido pelo Prodes foi de 13.235 km², o pior em quinze anos.
O desmatamento foi concentrado nos estados do Pará (56%), Amazonas (12%), Mato Grosso (11%) e Acre (9%). O Pará sozinho registrou um desmatamento de 351 km² no mês passado, destruição que adentra em áreas protegidas. Sete das 10 unidades de conservação e quatro das dez áreas indígenas mais desmatadas no último mês estão lá, mostra o Imazon.
Segundo Bianca Santos, pesquisadora do Imazon, degradação florestal, que inclui queimadas e exploração madeireira e ocorrem antes do desmatamento, cresceu 183% no mês passado – 1.519 km² – em relação a outubro de 2021, aumentando a preocupação de que a Amazônia caminha para um recorde histórico de supressão florestal este ano.
“As áreas degradadas costumam ser desmatadas em seguida. Se forem fiscalizadas, é possível impedir que isso aconteça”, diz ela.
A pesquisadora do Imazon afirma que os números do Prodes são essenciais para que sejam estabelecidas as políticas públicas ambientais para a região. No começo da semana, o vice-presidente eleito e coordenador da equipe de transição, Geraldo Alckmin, afirmou que a equipe tem tido dificuldade de acessar os obter os dados.
Piora
A piora no desmate foi ignorada pelo Ministério do Meio Ambiente nesta COP, que concentrou seus esforços em promover o Brasil como um expoente da energia sustentável — apesar de o governo ter tomado medidas para poluir a malha energética do Brasil nos últimos anos. Na COP26, o País se comprometeu a zerar o desmate ilegal até 2030 e reduzir suas emissões de gases-estufa em 37% até 2025, em comparação a 2005, e cortá-las pela metade até o fim da década.
Menos ambiciosas que as feitas no âmbito do emblemático Acordo de Paris de 2015, quando todos os países assumiram compromissos voluntários de cortar suas emissões, as promessas brasileiras foram formalizadas à ONU em abril deste ano. O país, ainda assim, está muito distante de cumpri-las.
No ano passado, as emissões de gases-estufa do Brasil tiveram sua maior alta em 19 anos, segundo os dados compilados pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática.
Cerca de 50% da poluição veio de mudanças do uso da terra, ou seja, principalmente do desmatamento. A Amazônia sozinha é responsável por 77% dessas emissões, e oito dos dez municípios brasileiros que mais poluem estão na região.