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Por Redação O Sul | 17 de setembro de 2018
A HPN (hidrocefalia de pressão normal) é uma patologia que leva a um acúmulo de líquido no cérebro, provocando sintomas que podem ser confundidos com doenças comuns da velhice, como Alzheimer. Também conhecida como hidrocefalia do idoso, por atingir apenas pacientes acima de 65 anos, a HPN afeta cerca de 120 mil brasileiros, tem a possibilidade de ser curada com cirurgia, mas ainda é pouco conhecida da população e até de alguns médicos.
A maior diferença entre a HPN e doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, é que a primeira pode ser totalmente revertida com a implantação de uma válvula no cérebro, que drena o líquido em excesso e faz o paciente recuperar todas as funcionalidades, muitas vezes logo após a cirurgia. Dados da literatura científica mostram que 75% dos pacientes submetidos à operação têm melhora significativa em até um ano.
Muitos pacientes com HPN, porém, não têm a sorte de ter o diagnóstico correto.
Segundo o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, chefe do grupo de hidrodinâmica cerebral do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), é comum pacientes demorarem anos até terem o diagnóstico. “No HC, por exemplo, os pacientes chegam até a gente com um tempo médio de sintomas de dois a três anos”, relata ele, que apresentou palestra sobre reabilitação neurológica para pacientes com doenças como HPN na 15.ª edição do Brain Congress, evento sobre cérebro, emoções e comportamento.
Confusão
Pinto diz que a confusão de diagnósticos se dá porque alguns dos sintomas da HPN são comuns a muitas doenças do idoso. Além disso, é raro o especialista para o caso – neurocirurgião ou neurologista – ser o primeiro consultado.
Neurocirurgião do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e da clínica DFVNeuro, Eduardo Vellutini também atende pacientes que, antes de saber da HPN, receberam outros diagnósticos. “Não é uma doença tão rara, mas, na fase inicial, alguns médicos confundem, seja porque observam uma marcha [caminhar] típica do parkinsoniano, como se os pés estivessem grudados no chão, seja porque há um quadro de demência parecido com o do Alzheimer”, destaca. Outras doenças que podem confundir são depressão, neuropatia diabética e acidente vascular cerebral.
Os especialistas ressaltam que uma diferença importante é que, ao contrário do Parkinson, a HPN não provoca tremores. Outra divergência é que o paciente com Alzheimer não tem consciência da sua confusão mental, mas o de HPN, sim.
Diagnóstico
Para a confirmação do diagnóstico e da possibilidade de sucesso da cirurgia de implantação da válvula, é realizado ainda um exame chamado TAP teste, um tipo de punção lombar por meio do qual um volume de líquido cefalorraquidiano é retirado. Se o paciente apresentar melhora nos sintomas de HPN três horas após o teste, ele é forte candidato à cirurgia.
Tratamento
Os sintomas podem ser revertidos com a implantação de uma válvula na parte de trás da cabeça que drena o líquido acumulado. A operação dura de 40 minutos a 1 hora.
Cientistas brasileiros estão na fase final do desenvolvimento de uma válvula nacional mais moderna para o tratamento da HPN. De acordo com o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, chefe do grupo de hidrodinâmica cerebral do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e professor da Faculdade de Medicina da USP, existem hoje dois tipos de válvula disponíveis no mercado: a de pressão fixa e a programável.
A segunda permite que o médico acompanhe e regule a pressão da válvula definindo, assim, o quanto de líquido deve ser drenado. No caso da válvula de pressão fixa, se o volume de líquido drenado é superior ou inferior ao necessário, a única forma de reparar é realizando uma nova cirurgia. “A válvula programável é muito melhor para o paciente, mas, como todos os fabricantes do produto são de fora do País, o custo é de R$ 10 mil e ela não é coberta pelo SUS. Somente a válvula de pressão fixa, que custa R$ 1 mil, é oferecida na rede pública”, relata o neurocirurgião.
Diante do cenário, Pinto e outros pesquisadores do HC estão desenvolvendo, em parceria com a empresa HPBio, uma válvula programável de fabricação nacional. “Já a utilizamos em alguns pacientes e ela tem apresentado bons resultados. Pode ser que já esteja disponível no mercado neste ano”, conta o médico.