Segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2016
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Na cidade, há alguns anos, foi criada uma associação que congrega um grupo de moradores que sofrem até hoje de doenças incuráveis. Não sei porque era masculina a parceria. Acusa-la, por isso, de machista seria uma inverdade verdadeira, já que nenhuma mulher foi impedida de participar. Também é verdade de que não há registro de que alguma tenha tentado.
Nas reuniões quinzenais, ocorria a leitura de ata da sessão anterior, ouvida, por alguns, apenas em parte, pela inevitável diminuição da capacidade auditiva de sócios no mínimo sexagenários. Numa farsa inocente do “faz de conta”, o secretário lia de novo e a plateia dizia que “agora sim”, quando, continuavam os interessados sem ouvir nada. Mentira conveniente. Transitada em julgado como verdade.
Logo, passava-se, como mandavam os estatutos, zelosamente cumpridos; a “ordem do dia”, na qual se fazia a comunicação das novidades locais. Na maioria anúncios fúnebres. Merecia interesse prioritário a leitura de notícias, dando conta de experiências científicas, buscando a descoberta de novos remédios que permitissem cultivar alguma esperança de cura, de doença até então letal.
Numa dessas ocasiões, desejoso de levar adiante o conhecimento sobre uma experiência, feita numa grande universidade, exitosa em seu momento inicial e que talvez pudesse viabilizar avanço no tratamento, alguém propôs convidar o médico especialista, a seu juízo, o melhor no assunto, para explicar quais, quantas e quando poderiam os enfermos lidar com suas ilimitadas esperanças (quem tem o direito de restringi-las?) na batalha contra a enfermidade.
Aprovou-se a proposta por unanimidade, ficando pendente um “destaque”. Um dos associados, muito cuidadoso, disse que respeitava a indicação de “melhor” feita pelo autor da proposta mas que tinha outro profissional – o seu médico de cabeceira – a quem considerava o nº 1.
Seguiu-se um novo orador que indicou um terceiro “nº 1” e assim se chegou a seis nomes (que eram quantos especialistas haviam na cidade). O Presidente, jeitoso, e, por isso, Presidente, sentiu que se houvesse votação (estavam presentes 24 associados) criar-se-ia (mesóclise a la TEMER) uma possível radicalização, apaixonando os associados e, logicamente, os médicos – o que poderia levar ao disse-me-disse, às acusações, às inimizades, e tudo isso sem um termômetro de aferição de qualidade que, na prática, acabaria impugnado, passionalmente pelo juízo subjetivo e fanatizado de cada um.
“Macaco veio”, como se dizia antigamente, suspendeu os trabalhos por 15 minutos. Conversou ao pé do ouvido com cada um e com todos e escreveu uma página e meia. Reabriu os trabalhos e anunciou que leria uma nova proposta para resolver as divergências. Ouviram-no silentes. A emenda presidencial estabelecia que, ao invés de uma palestra isolada faria um seminário para debater o tema do qual participariam os seis especialistas, em pé de igualdade.
Os aplausos entusiásticos demonstraram aprovação. Chegou-se a um consenso. Ouvindo essa história (que me disseram verdadeira), explica-se qual é a essência elementar (e até alimentar) do pragmático (oportuno ou oportunista) presidencialismo de coalizão pomposamente apresentado como a “fórmula” jurídico-política de Governança (um tanto escabrosa, me parece), a la brasileira.
Também conhecida, popularmente, por “sempre cabe mais um”, os simpatizantes do modelo alegam que se adotando A COALIZÃO, que fatia o Poder, evita-se a COLISÃO que gera a crise. O que não se pode esquecer é que, por esse caminho, o penúltimo e cassado Governo Federal chegou a 40 ministérios; na maioria deles, não se conhecia o Ministro e nunca se soube do que trataria (?) sua pasta.
Essas deformações foram implantadas e vividas, inclusive pela Presidência, devido ao congestionamento de parasitas sabidamente tão inúteis quão onerosos, estacionados improdutivos, a sombra do Palácio do Planalto. Enfim, parece que o Brasil inventou mais uma “tese prática” em matéria de ciência política aplicada: em nosso país, perder eleição não significa – como em todas as democracias consolidadas – afastar-se do Poder e ir para a oposição fiscalizar o Governo.
Aqui, é só esperar,e, logo, logo (porque o Governo é elástico), a “turma da boquinha” puxa pra cá, puxa pra lá um pouquinho mais e logo “cabe tudo mundo na casinha”. Nesta terra pela “ciência” injustificável da acomodação política, não há “doença incurável” que resista ao apelo de nomeação para um cargo (emprego; não trabalho) balofo, flatulento, comprometido e comprometedor que facilite a indecorosa mancebia de um perfil de Governo obeso, e alegoricamente inconsistente com uma oposição faminta, incompetente e raivosa até chegar a ração.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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