Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2016
Dois dias antes do ministro da Cultura Marcelo Calero pedir demissão, a presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Kátia Bogéa, determinou o embargo das obras do condomínio La Vue, em Salvador, na Bahia.
O despacho leva em conta o parecer técnico da Câmara de Análise de Recursos do Iphan, que afirmou que é “grande e prejudicial o possível impacto da construção do empreendimento sobre bens tombados em seu entorno”. O parecer técnico apontou que a construção é “incompatível com os valores culturais atribuídos a estes bens”.
O terreno onde se localiza a obra do Le Vue fica a poucos metros da praia e do farol da Barra. O projeto prevê 23 andares de apartamentos, dois pavimentos para apartamento de cobertura, dois andares sociais e três de garagem, além do subsolo, com um total de 31 pavimentos, mas o Iphan impôs um limite de 13 andares. O despacho de Kátia Bogéa revoga decisão anterior do Iphan da Bahia que liberava a obra em sua totalidade.
Polêmica antiga
Antes de ganhar o noticiário por ser apontado como pivô da saída de Marcelo Calero do Ministério da Cultura, por desacordo com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o empreendimento La Vue já era motivo de polêmica em Salvador, na Bahia.
Em agosto de 2015, a Associação de Amigos e Moradores da Barra dizia temer “danos à paisagem urbanística do local e possíveis agressões aos imóveis tombados na região”. O terreno fica próximo ao Cemitério dos Ingleses, a Igreja de Santo Antônio da Barra e o Forte de São Diogo, e os prédios do entorno não ultrapassam dez andares.
A presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil na Bahia, Solange Araújo disse que estranhava que a área de proteção ambiental não contemplasse justamente o local.
Comissão avaliará caso
A Comissão de Ética Pública do Palácio do Planalto entrará no caso em que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero denunciou que o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o pressionou pela liberação de um empreendimento em Salvador. “Li com atenção o que foi publicado e, como presidente da Comissão, decidi que vou submeter o assunto ao colegiado, que vai decidir se abrirá procedimento de investigação [contra o ministro] ou não e quais providências a serem tomadas”, disse Mauro Menezes. “Não vou dar declaração, porque estaria me antecipando à posição da comissão.”
A oposição quer fazer uma acareação. “Vamos chamar os dois na Câmara. Calero, para deixar mais explícito os motivos que levaram a seu pedido de demissão. E Geddel, para que explique a acusação. Eles vão ter de dar explicações”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).