Sábado, 14 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 23 de julho de 2022
O ex-presidente Donald Trump foi acusado de abandono do dever, negligência, inação e de “trair seu juramento” ao cargo de presidente durante a oitava audiência da Comissão da Câmara dos Deputados dos EUA que investiga a invasão ao Capitólio por seus apoiadores, em 6 de janeiro do ano passado. O ex-presidente lavou as mãos e apenas assistiu aos tumultos, ao vivo, durante duas horas e meia pela Fox News, sentado em sua sala de jantar, disseram.
De acordo com a comissão, Trump tinha o poder de desmobilizar a multidão, que agia em seu nome, mas se recusou a fazê-lo, mesmo depois que a sede do poder Legislativo foi tomada por seus apoiadores.
Para o deputado Adam Kinzinger, um dos dois republicanos que compõem a comissão de nove membros, os testemunhos mostraram que Trump fez uma opção:
— O presidente Trump não falhou em agir durante os 187 minutos entre o discurso em frente à Casa Branca e [o momento de] dizer à multidão para voltar para casa. Ele escolheu não agir — disse Kinzinger, de Illinois.
Ainda segundo a comissão, só depois que centenas de policiais marcharam para o local para ajudar as forças de segurança do Capitólio e começaram a reverter a situação, deixando claro que o cerco falharia, é que Trump teria se manifestado.
Quando o Capitólio estava cercado, em vez de chamar a polícia ou a Força Nacional para obter uma resposta imediata, Trump preferiu ligar para senadores republicanos, em uma última tentativa de convencê-los a atrasar a contagem e certificação dos votos, disse a deputada Elaine Luria, democrata da Virgínia.
Também segundo Luria, Trump foi informado do tumulto no Capitólio assim que voltou ao Salão Oval depois de discursar a apoiadores na frente da Casa Branca. Ele então se dirigiu à sua sala de jantar privada, onde a TV transmitia a conservadora Fox News.
Uma testemunha anônima, descrita apenas como “funcionário de segurança da Casa Branca”, contou que Eric Herschmann, ex-conselheiro de Trump, ligou para o advogado da Casa Branca, Pat Cipollone, para tentar coordenar uma resposta, mas ouviu que o então presidente não queria que nada fosse feito.
— Levaria provavelmente menos de 60 segundos da sala de jantar do Salão Oval até a sala de coletiva de imprensa. Se o presidente quisesse fazer uma declaração e se dirigir ao povo americano, ele poderia estar ao vivo quase instantaneamente — disse Sarah Matthews, ex-assessora de imprensa da Casa Branca que renunciou após a invasão ao Capitólio. — Mas ele não queria que isso parasse.
A comissão mostrou trechos do discurso que Tump fez em frente à Casa Branca minutos antes de seus apoiadores marcharem até o Capitólio, incentivados pelo ex-presidente; e do discurso de pouco mais de três minutos e meio que o ex-presidente fez na noite daquele dia, relutando em responsabilizar os invasores, que ele chamou de “patriotas”, e se recusando em dizer que a eleição havia acabado.
Sem garantias
Até então os deputados mostraram como a falsa narrativa de uma fraude nas eleições de 2020 serviu de combustível para os atos de violência. Agora, com o aparente fim das audiências, a comissão vai preparar um relatório sobre os meses de investigações e depoimentos, a ser apresentado em setembro. Contudo, apesar das evidências apresentadas, não há qualquer garantia de que o ex-presidente será processado.
A começar pelo fato de a comissão não ter o poder de acusar criminalmente Trump — essa tarefa cabe ao Departamento de Justiça, que pode, ou não, aceitar as evidências produzidas pelos deputados, e incorporá-las em eventual processo.
Até o momento, o secretário de Justiça evitou comentar as audiências, e prefere se referir aos mais de 800 processos abertos contra pessoas que participaram da invasão. Especialistas afirmam que alguns dos potenciais crimes cometidos por Trump, conspiração sediciosa e obstrução de um procedimento do Congresso, são difíceis de provar, porque dependem de provas incontestáveis de que o acusado tinha a intenção de cometê-los.
Há ainda o fator político: um processo contra um ex-presidente, ainda mais em um país dividido, pode inflamar ainda mais os EUA, e até abrir um precedente para que processos semelhantes, mas por motivos menos graves, ocorram no futuro.
— Se não houver responsabilidade para 6 de janeiro, para cada parte deste esquema, temo que não superaremos a ameaça contínua à nossa democracia — defendeu Thompson. — Deve haver consequências duras para os responsáveis.