Sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de janeiro de 2018
Depois de um ano de diplomacia via Twitter do presidente Donald Trump, especulações sobre o destino do secretário de Estado, Rex Tillerson, e reportagens sobre o caos no Departamento de Estado, é fácil esquecer os embaixadores.
Fora o secretário de Estado, os embaixadores são os representantes mais visíveis —e pessoais— da política externa do presidente em todo o mundo.
Tradicionalmente, doadores de campanha e amigos próximos são recompensados com postos luxuosos, e este governo não é exceção: o Senado já confirmou mais de duas dúzias de escolhidos por Trump, notadamente para China, Rússia, Israel, Reino Unido e França.
Mas também há lacunas curiosas: não há embaixadores na Alemanha, na União Europeia ou na Coreia do Sul.
Antes da posse, Trump pediu que todos os embaixadores políticos do presidente Barack Obama deixassem os cargos em 20 de janeiro. A diretriz deixou alguns países sem embaixadores por mais de um ano —algo que muitos consideram esnobismo pessoal.
“Isto agora chega perto de um insulto diplomático”, disse na semana passada o ex-vice-primeiro-ministro da Austrália, Tim Fischer.
A maioria dos presidentes dá cerca de um terço das principais embaixadas a nomeados políticos; o restante é preenchido por diplomatas de carreira.
Geralmente leva meses para que um nomeado passe pelo processo de confirmação, embora o Senado tenha aprovado por via expressa Nikki Haley para embaixadora na ONU em 24 de janeiro de 2017.
David Friedman, o advogado de falência de Trump, foi confirmado para a embaixada em Israel em março, e o governador de Iowa, Terry Branstad, à da China em maio. Então as coisas pararam.
“Os democratas estão demorando demais para aprovar meu pessoal, inclusive os embaixadores”, tuitou Trump em junho. “Eles não passam de OBSTRUCIONISTAS! Quero aprovações.”
Demora
É claro, a realidade é mais complexa.
Na véspera da posse, Trump anunciou que o bilionário Robert “Woody” Johnson, dono dos New York Jets e um generoso doador à campanha do presidente, foi seu escolhido para o prestigioso cargo em Londres. Mas o nome de Johnson só foi enviado ao Senado em junho; ele foi confirmado em agosto.
Algumas embaixadas foram para figuras conhecidas: Jon Huntsman, ex-governador de Utah e embaixador na China, foi aproveitado para o que talvez seja o posto diplomático mais delicado do governo: a Rússia.
Scott Brown, ex-senador por Massachusetts, está na Nova Zelândia, e a ex-senadora Kay Bailey Hutchison, do Texas, foi nomeada embaixadora na Otan.
Vários outros embaixadores foram confirmados no final do verão e no outono, muitos deles ricos doadores à campanha de Trump e ao Comitê Nacional Republicano.
A Casa Branca selecionou a executiva de empresa Kelly Knight Craft como enviada ao Canadá; o investidor Lewis Eisenberg para a Itália; o investidor George Glass para Portugal; e William Hagerty, membro da equipe de transição de Trump, para o Japão.
A França ficou para Jamie McCourt, ex-coproprietário dos Los Angeles Dodgers. Callista Gingrich, mulher do ex-presidente da Câmara Newt Gingrich, conseguiu o posto no Vaticano, em Roma.
Ed McMullen, um especialista em relações-públicas que serviu na equipe de transição de Trump, foi nomeado embaixador na Suíça.
A Espanha estaria deliciada porque o financista Duke Buchan chefia a embaixada em Madri, principalmente porque ele estudou no país e é fluente em espanhol.
Ken Juster, um advogado de Harvard e especialista em economia, está sendo recebido calorosamente na Índia. Mas o recém-confirmado embaixador na Holanda, Pete Hoekstra, chegou com um estouro.
No mês passado, um repórter holandês perguntou a Hoekstra por que ele disse que havia lugares na Holanda em que muçulmanos radicais estavam queimando carros e políticos. Hoekstra negou o comentário, chamando-o de “fake news” (notícia falsa).
Depois o repórter tocou uma gravação do ex-congressista de Michigan dizendo exatamente aquilo. Hoekstra negou ter usado a expressão “fake news” momentos antes.
Reprovados
Apesar de a maioria dos escolhidos por Trump ter passado pelo processo de confirmação, nem todos foram carimbados. Em setembro, Trump nomeou Richard Grenell, um ex-porta-voz dos EUA na ONU, para a embaixada na Alemanha.
Alguns senadores não gostaram dos ataques partidários de Grenell em aparições na Fox News. “Há poucas profissões que provavelmente o preparem pior para ser um diplomata do que ser um comentarista de canal de notícias”, disse o senador democrata Chris Murphy, de Connecticut, na audiência de confirmação de Grenell.
Outros senadores ficaram ofendidos com tuítes sobre a aparência de mulheres políticas. O Senado não agendou uma votação completa sobre a nomeação.
A Casa Branca renomeou Grenell nesta semana, junto com a ex-vice-assessora de segurança nacional da Casa Branca K.T. McFarland como embaixadora em Cingapura.