Sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
Por Gelson Santana | 19 de dezembro de 2025
E seguimos acreditando que 2026 pode marcar a renovação do Congresso Nacional, com representantes verdadeiramente comprometidos com quem constrói este país.
Foto: ReproduçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
No final do ano passado participei de encontros com lideranças de vários setores e o tema que mais abordamos foi sobre a atuação do Congresso brasileiro naquele ano. Sim, estou falando do ano passado. Logo você vai entender o porquê. Todos que participavam consideravam que os integrantes do mesmo tinham deixado como saldo uma imagem negativa e altamente desgastada para as duas Casas.
Não vou listar e sim lembrar que o fruto desse balanço ficou estampado em um estudo que identificou dados muito negativos: apenas 19% dos projetos tinham foco em populações específicas, com baixa atenção a grupos historicamente negligenciados, como negros, indígenas e mulheres. Apenas 249 das 1.314 proposições analisadas foram classificadas como voltadas a públicos específicos (fonte: Agência Brasil).
Nessa semana nosso grupo voltou a realizar um encontro de confraternização e o assunto Congresso voltou à mesa. Foi uma espécie de comida requentada. Pior ainda. Estragada. Culpa dos mesmos. Só ter um pouco de paladar para constatar. Aliás, pesquisas já constataram. Em agosto desse ano, o Datafolha realizou estudo no qual os números falam por si só. Indicou que 78% dos entrevistados acreditam que os congressistas agem prioritariamente em benefício próprio, não em prol da coletividade. Mais de 35% dos entrevistados avaliaram o trabalho como ruim ou péssimo e apenas 18% como ótimo ou bom. Mas, no nosso papo de boteco, surgiram mais ingredientes requentados. Alguns não. Um deles foi a notícia de que o ex-juiz Sergio Moro, maior expoente da finada “Lava Jato”, ex-ministro de Jair Bolsonaro e hoje senador pelo União Brasil, grampeou autoridades com foro privilegiado de forma ilegal usando delatores chantageados. Outro foi a prisão preventiva do desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região Macário Ramos Júdice Neto. Claro que não ficou de fora o Banco Master e o contrato de prestação de serviço do escritório de advocacia da esposa do ministro Alexandre Moraes com ele.
Não bastasse tudo isso, presenciamos nessa semana a aprovação do PL da Dosimetria, que é a materialização de mais um caso de legislação em causa própria. Um projeto que beneficia diretamente aliados políticos e que faz a redução das penas para crimes contra o Estado Democrático de Direito, o que poderá incentivar futuras ações golpistas ao sinalizar uma possível impunidade. Por falar em impunidade, vale destacar um exemplo claro que demonstra uma atitude concreta contra esse conceito. A Comissão de Ética da Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou, recentemente, parecer que aponta fatos graves e incompatíveis com o exercício da vereança, como a admissão do pagamento de propina para manter contratos com o DMAE em 2015, pedindo a cassação do mandato do vereador Gilvani Gringo. Esse vereador também é um agressor da defesa dos trabalhadores, ou seja, dos sindicatos. Dá para entender por quê.
Diante do exposto e do período de balanço que vivemos nesse encerramento de ano, gostaria de propor uma reflexão para os leitores. Um pensar sobre o que vamos fazer no próximo ano, quando teremos que exercer nossas escolhas eleitorais? Queremos continuar com esse perfil, quase majoritário, de representantes que legislam em causa própria e não éticos? Queremos que eles continuem nos representando? Deputados e senadores que legislam para prejudicar os menos favorecidos e trabalhadores merecem continuar “nos representando”?
Nós, que representamos os trabalhadores da construção civil, dizemos com toda clareza: não aceitaremos retrocessos.
Não aceitaremos deixar de atender e proteger os mais de 95 mil trabalhadores que nossa entidade representa. Não aceitaremos abandonar os mais de 6 mil trabalhadores e familiares que, apenas no último período, buscaram a sede do STICC para atendimento médico, odontológico, orientação jurídica e homologações.
Esses serviços não são favores. São conquistas históricas da classe trabalhadora, construídas com luta, organização e solidariedade. Ainda assim, os que hoje se dizem representantes do povo fazem – e continuam realizando – de tudo para desmontar a representação sindical, enfraquecer os sindicatos e silenciar a voz de quem vive do próprio trabalho.
O que se viu nesse bate-papo foi inevitável: doses de indignação, diante de ataques reiterados aos direitos sociais e à organização dos trabalhadores. Mas também houve doses de esperança. Esperança de que a consciência política avance. Esperança de que o Brasil compreenda que não há democracia forte sem sindicatos fortes.
Seguiremos resistindo, atendendo, protegendo e lutando.
E seguimos acreditando que 2026 pode marcar a renovação do Congresso Nacional, com representantes verdadeiramente comprometidos com quem constrói este país com as próprias mãos.
Gelson Santana – Presidente do STICC
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.