Sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de novembro de 2025
“No estado atual, é simplesmente inaceitável.” Em entrevista a jornalistas de seu país em Belém, a ministra da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia da França expôs a decepção dos europeus diante do rascunho de resolução final da COP30, apresentado nessa sexta-feira (21), em Belém do Pará.
Monique Barbut foi mais longe e afirmou que vê como plausível a possibilidade de a conferência brasileira acabar sem um acordo neste fim de semana. “Sim. Se for assim, sim. Porque não é possível sair com um texto… Afinal, estamos em Belém, no coração da Amazônia, e nem mesmo a palavra “desmatamento” é usada nesse texto.”
A possibilidade de haver um bloqueio nas negociações foi antecipada pelo jornal britânico The Guardian.
O rascunho publicado pela presidência da COP30 abdicou de um “mapa do caminho” para o fim dos combustíveis fósseis, bandeira que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, propagaram durante toda a conferência.
Segundo a imprensa europeia, Lula pretendia inclusive levar o assunto até o encontro do G20, na África do Sul, neste fim de semana.
“Na verdade, é um texto… que não diz nada sobre mitigação. Não há nada sobre combustíveis fósseis. Não há nada sobre o fato de que a ambição das NDCs, (contribuições nacionalmente determinadas) não existe. Por outro lado, há parágrafos exaustivos sobre finanças. Mas, mais uma vez, a França nunca esteve numa posição de não pagar, mas paga-se por algo”, declarou a ministra.
“Acabamos de aprovar uma lei climática europeia que nos leva a uma redução de 90% das emissões até 2040. Não se trata de aceitar aqui que a Europa seja o único continente a fazer esforços…, mas tememos ficar muito isolados.”
Barbut não se recusou a apontar quem estaria contra a inclusão do fim dos combustíveis fósseis no documento. “Todos sabemos. São os países petrolíferos, obviamente, a Rússia, a Índia, a Arábia Saudita, mas acompanhados por muitos países emergentes.” A Índia não é um petroestado, mas um dos maiores consumidores de energia fóssil do planeta.
A ministra também percebe a capitulação de pequenos países insulares, em atitude pragmática diante da falta de recursos. “Há países que estavam mais do nosso lado no início, mas, com o passar do tempo, falo especialmente das pequenas ilhas, eles dizem: ‘Bem, se temos financiamento para a adaptação, no limite, podemos viver sem um texto sobre a mitigação’. Isso não é possível para nós.”
Na noite de quinta-feira, a França foi signatária de uma carta endereçada a André Corrêa do Lago, presidente da COP30, em que a decisão de omitir combustíveis fósseis e desmatamento foi duramente criticada. Cerca de 30 países lamentaram a decisão.
“Não podemos apoiar um resultado que não inclua um roteiro para implementar uma transição justa, ordenada e equitativa para longe dos combustíveis fósseis. Esta expectativa é compartilhada por uma vasta maioria das Partes, bem como pela ciência e pelas pessoas que acompanham de perto o nosso trabalho”, afirma a mensagem à qual a Folha teve acesso..
De acordo com o Guardian, a carta é assinada por países europeus, como Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Holanda, Espanha e Reino Unido, além de latino-americanos, como Chile, Colômbia, Costa Rica e México. Pequenas nações insulares, como Palau e Vanuatu, que temem desaparecer com o aumento do nível do mar, integram a lista.
Barbut vê exagero na posição da presidência da conferência e dos petroestados. “Eles foram um pouco longe demais. Exageraram um pouco. Mas isso é porque acham que vamos negociar. Na verdade, a técnica aqui é nos obrigar a negociar um pouco a margem do financiamento para esquecer o resto.”
A COP30 terminaria nessa sexta-feira, mas as discussões são normalmente prolongadas pelo fim de semana. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.