Segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de dezembro de 2019
“Desde que eu me entendo por gente, sempre tive sobrepeso. Meus pais me levavam aos nutricionistas e eu acabava fazendo várias dietas”, conta a geógrafa Maurielle Felix da Silva, hoje com 31 anos.
Na passagem de um consultório a outro, as receitas variavam. Testou dietas que iam das sopas aos shakes emagrecedores, mas o problema se repetia. Reduzia drasticamente as refeições, mas a vontade de comer os alimentos “errados” — mais calóricos, como pizzas e hambúrgueres — aparecia.
“Eu sentia muita vontade mas, quando comia, comia muito e sentia culpa”, explica a paranaense. O comportamento, que ela define como “ou 8 ou 80”, gerou frustração ao longo dos anos.
Seu último recurso foi uma abordagem alternativa, a linha não-prescritiva. Em busca de emagrecimento, Maurielle recorreu a uma profissional que era contra dietas. “Cheguei até a pensar em fazer bariátrica”, diz ela.
Nutricionistas que seguem tal linha podem optar por diversas práticas. Há quem foque no viés comportamental, com atenção especial a como se come, não apenas aos alimentos. Já a “mindful eating” recorre às técnicas de atenção plena na hora das refeições.
Como regra geral, profissionais antidietas não receitam um plano alimentar rígido, nem focam em cortar calorias da alimentação por si só. Em vez disso, optam por trabalhar junto ao paciente as formas de comer melhor, alinhadas às sensações de fome e saciedade.
A ideia é contemplar a alimentação de forma mais global: onde se come, quais emoções o paciente sente ao fazê-lo, com quem se senta à mesa. Entram na balança, portanto, fatores psicológicos, emocionais e sociais.
A nutricionista paranaense Paola Altheia aderiu a uma abordagem não prescritiva logo ao se formar. Foi ela quem apresentou a Maurielle a possibilidade de viver sem fazer dietas.
Como Altheia brinca, seu consultório é “última porta” no caminho das pacientes. “‘Eu fiz de tudo’ é uma frase que eu ouço sempre”, diz ela, criadora do projeto Não Sou Exposição, que divulga informações sobre nutrição, corpo e imagem.
Um peso, duas medidas
As orientações de entidades como a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) apontam que dietas com deficit calórico de 500 a 1000 kcal levam ao emagrecimento.
Não faltam estudos que monitorem a queda nas medidas de pacientes com dietas variadas, desde a restrição de determinados grupos alimentares até do número de calorias. E nutricionistas — até mesmo de linhas não prescritivas — concordam.
A diferença está na pergunta seguinte: o que acontece depois do período seguindo dieta à risca? Os planos alimentares duram, em geral, de quatro a oito semanas. As taxas de sucesso podem ser otimistas durante o estudo, mas não se mantêm com a passagem dos anos.
Segundo as diretrizes da ABESO, “grande porcentagem de pacientes recupera o peso perdido”. Tais índices ultrapassam os 90%, no período de um a cinco anos após a dieta.
“Perder peso não é fácil, mesmo porque obesidade é uma doença crônica que não tem cura, só controle”, afirma o endocrinologista Mario Kehdi Carra, presidente da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica). “O tratamento é para a vida toda.”
Qual é o problema das dietas para perder peso, então? “Elas são, via de regra, cansativas, porque a restrição tem que ser grande. O número de alimentos que um paciente vai usar é pequeno, ele acaba tendo uma alimentação monótona”, detalha Carra.