Quarta-feira, 14 de maio de 2025

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Colunistas É sempre um Deus nos acuda

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Quando tomamos em nossas mãos uma obra literária, ao mesmo tempo que a lemos, devemos permitir que nossa vida seja lida por ela

Foto: Divulgação
Quando tomamos em nossas mãos uma obra literária, ao mesmo tempo que a lemos, devemos permitir que nossa vida seja lida por ela. (Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Quando deitamos nossas vistas nas páginas das obras de escritores de elevado calibre, somos confrontados com o absurdo que habita o nosso coração. Aliás, quando tomamos em nossas mãos uma obra literária, ao mesmo tempo que a lemos, devemos permitir que nossa vida seja lida por ela.

De um jeito ou de outro, ver a vida — a nossa vida — através da vida das personagens das obras dos gigantes da literatura é como mirarmos as janelas da nossa alma na imagem do nosso rosto refletida em um espelho partido, o que, naturalmente, pode acabar por nos causar uma certa repulsa.

Porém, se vencermos essa primeira sensação e nos permitirmos olhar mais detidamente para o que cada um desses cacos nos revela a respeito de nós mesmos, inevitavelmente acabaremos não apenas vendo a vida como ela é, mas também, como diria Manuel Bandeira, poderemos ver a vida que poderia ter sido vivida por nós, mas não foi.

Realmente, é inevitável que, ao nos defrontarmos com a literatura, tenhamos uma certa crise, que sintamos os alicerces das nossas crenças e convicções abalados — e isso, diga-se de passagem, é muito bom.

Ora, crenças que não podem ser questionadas não merecem ser acalentados por nós. Se a literatura não se apresenta com esse poder, de nos convidar a ver a vida através de outros olhos, ela, sem querer querendo, acaba se apequenando.

Sobre isso, certa feita perguntaram a Milton Hatoum o que ele diria àqueles que consideravam seus livros pessimistas (ou algo que o valha). Ele, laconicamente, disse: “Eu escrevo literatura, não autoajuda”.

Nada contra os livros de autoajuda. Nem a favor. Eles têm o seu valor, mas não podemos, de jeito-maneira, crer que eles tenham o mesmo significado que a grande literatura tem. Aliás, fazer isso seria o suprassumo da tolice.

Na verdade, é bem mais do que isso. No fundo — e não é tão fundo assim — nós não queremos questionar os nossos “valores”. Queremos apenas confirmá-los da forma mais insossa possível, para que nos sintamos seguros, pouco importando se estamos redondamente enganados, não é mesmo?

Por isso, Nietzsche indagava: quanto de verdade nós realmente somos capazes de ouvir e assimilar? Quanto? Foi o que eu pensei porque, no frigir dos ovos, verdade nos olhos dos outros é refresco; nos nossos, é sempre um Deus nos acuda.

E por hoje é só pessoal.

* Dartagnan da Silva Zanela, professor e autor de “A Quadratura do Círculo Vicioso”, entre outros livros

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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