Por Redação O Sul | 7 de outubro de 2021
Com ampla repercussão nos últimos dias, o caso de racismo protagonizado por um doutorando em Filosofia contra um aluno do curso de graduação em Políticas Públicas motivou a abertura de dossiê na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde ambos estudam. Também já está em curso uma investigação pela Polícia Civil.
Esse documento conta com a participação de vários membros da comunidade acadêmica, além de ex-alunos, que enviaram à ouvidoria da instituição uma série de “prints” de textos publicados pelo acusado em redes sociais, blogs e sites. São materiais que também sugerem a ocorrência de misoginia e apologia ao nazismo.
O incidente aconteceu quando Álvaro Körbes Hauschild, um branco de 29 anos, postou no Instagram um comentário preconceituoso na foto de Sérgio Renato da Silva Júnior com sua namorada Amanda Klimick, ambos 23 anos. Motivo da manifestação de ódio: o casal é formado por um homem negro e uma mulher branca.
Indignados, Sérgio e Amanda resolveram “dar trela” ao doutorando, estimulando-o a falar mais sobre o assunto por meio de conversa privada na mesma rede social. Foi quando Álvaro escreveu uma série de observações que podem ser definidas como, no mínimo, repugnantes.
Isso incluiu a defesa da chamada “supremacia branca”e até observações como a de que pessoas negras “cheiram mal”. Uma das mensagens que mais revoltaram o casal não deixa dúvidas a respeito do discurso de ódio:
“Mulher, te olha no espelho! Tu é bonita, parece que de família… Tu merece algo à tua altura. Já pensou como serão teus filhos? Tu tem ombros fortes, com certeza é descendente de vikings. Quando as pessoas dizem que vocês [ela e o namorado] são ‘iguais’, no fundo sabem que não. Estão só tentando esconder a vergonha que tu passa com esse energúmeno”.
Nazismo
Uma das reproduções de postagens atribuídas ao doutorando em Filosofia, ele evidencia seu pensamento a respeito do extermínio de judeus e outras minorias pelo regime nazista que comandou a Alemanha de 1933 a 1945: “O Holocausto é um ‘holoconto’ imposto goela-abaixo aos povos, com um discurso intensamente sentimental e midiático para evitar que se coloque em questão a verdade científica a respeito”.
Após receber o documento, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia o repassou ao Núcleo de Assuntos Disciplinares (NAD) da universidade, que por sua vez recomendou ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) a abertura de um processo disciplinar.
O IFCH afirma que duas denúncias já estão sendo investigadas. Mas há relatos de que no inquérito aberto pela Polícia Civil gaúcha está anexado um dossiê entregue em agosto por um grupo de acadêmicos e não resultou até agora em qualquer punição.
Denúncia
Fora da esfera acadêmica, Álvaro também já é alvo de investigação. Renato registrou boletim de ocorrência contra ele na Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, em Porto Alegre, e um inquérito sobre o caso está em andamento.
Além disso, a editora paranaense Kotter retirou de seu catálogo e mandou recolher das lojas o livro de contos “Anamnesine”, escrito por ele. O caso está aos cuidados do departamento jurídico da empresa.
Hauschild nega ter sido racista. Em entrevista ao jornal “O Globo”, ele argumentou que “tudo pode ser distorcido e jogado no ventilador para causar impacto e prejudicar uma pessoa”.
O fato é que o conteúdo de diversas de suas postagens não deixa dúvidas quando à promoção de ideias identificadas com a extrema-direita. Ele é tradutor, por exemplo, do filósofo ultranacionalista russo Aleksandr Dugin, parceiro do brasileiro Olavo de Carvalho no livro “Os Estados Unidos e a nova ordem mundial”.
(Marcello Campos)
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