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Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2019
Uma delegação do Rio Grande do Sul iniciou uma missão governamental e empresarial de dez dias por três países que, na avaliação do governo gaúcho, são exemplos de perfil voltado para o investimento em inovação e tecnologia: Estônia (Leste Europeu), Suécia (Escandinávia) e Israel (Oriente Médio). Integram o grupo empresários, pesquisadores, gestores e representantes dos Poderes Executivo e Legislativo.
E a primeira escala, nessa segunda-feira, foi em Tallinn, capital da ex-república soviética, a fim de observar iniciativas de estímulo à inovação e à criação de um ambiente propício aos negócios.
A agenda começou pela e-GA (e-Governance Academy), um centro de promoção de governança digital, que incentiva soluções tanto para o setor público como quanto para o privado, além de promover a integração entre ambas as esferas. O diretor-executivo Arvo Ott apresentou detalhes da estratégia que tornou o pequeno país uma referência global em inovação: “Em relação à tecnologia, países pequenos e grandes não são diferentes. Em países pequenos, é mais fácil promover as mudanças necessárias”.
Não há aspecto da vida na Estônia que não tenha sido transformado pela tecnologia. A partir de investimentos em democracia eletrônica, participação eletrônica do cidadão e identidade eletrônica, o país tornou-se “100% digital”. Uma das bases da revolução é um processo de identificação unificada, que coloca os serviços públicos à disposição do cidadão de maneira remota e segura, inclusive na área da saúde.
Na Estônia, por exemplo, as prescrições médicas são todas eletrônicas e integram o histórico do cidadão, que pode se beneficiar da facilidade e consultar suas informações por computador ou celular. “É preciso fazer um trabalho para que o cidadão acredite eletronicamente no governo”, ressaltou Ott.
À tarde, a agenda se iniciou na e-Estonia Briefing Center, onde um dos consultores, Tobias Koch, apresentou à comitiva brasileira os motivos que levaram a Estônia a investir no digital. “Os estonianos são muito pragmáticos. Tudo começou com a noção de que era importante expandir as suas fronteiras”, afirmou Koch.
Uma das tarefas do centro, que foi fundado como uma ONG, é estimular as experiências relativas “ao estado de espírito eletrônico do país”. A organização cumpre, entre outros objetivos, um papel estratégico na promoção da marca e-Estonia. Koch frisou que o principal esforço está na mudança de mentalidade:
“A melhor solução nem sempre é mais tecnologia ou mais dinheiro. Não é só sobre investir em tecnologia, mas em organização e processo. Os estonianos não aderiram à tecnologia porque é “mais chique”, mas porque perceberam uma utilidade prática na adesão em suas vidas”.
A comitiva seguiu a programação na 99 Lift, um dos primeiros ambientes de incubação de negócios digitais do país báltico. O brasileiro Edilson Osorio Júnior apresentou a experiência de trazer a sua empresa do Brasil para a Estônia, aproveitando os incentivos do governo, o apoio da sociedade e o ambiente receptivo.
Como a Original My, empresa que trabalha com blockchain, estava encontrando dificuldade para expandir as atividades no Brasil, ele resolveu concentrar as operações na Estônia. “Sigo operando no mercado brasileiro, mas o ambiente jurídico do Brasil não era adequado para desenvolver”, garantiu.
A coordenadora da Startup Estonia, Marika Truu, detalhou como a organização promove o desenvolvimento de negócios inovadores, apoiando todas as etapas, desde a formação de mentalidade voltada à tecnologia até os ganhos de escala das empresas que já atingiram faturamento milionário, como a Transferwise (transferência de dinheiro), a Pipedrive (marketing digital) e a Bolt (transportes).
Ainda segundo ela, os brasileiros representam o maior contingente de profissionais de tecnologia atraídos para a Estônia. “Como é um país pequeno que desenvolve rapidamente startups, a Estônia tem atraído talentos, mas vemos o Brasil também como um mercado”, situou.
O primeiro dia terminou com uma visita oficial ao parlamento da Estônia, na qual foram discutidas formas de promover parcerias para desenvolver a base legal de regulação para um ecossistema inovador.
“No caso brasileiro, é preciso promover uma revolução legislativa, o ambiente regulatório, para estimular o ecossistema de inovação”, afirmou o deputado Tiago Simon, presidente da Comissão de Economia da Assembleia Legislativa, que sugeriu a criação de uma comissão bilateral para estudar formas de cooperação a oportunidades de negócio.
Para o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, Luís Lamb, os três países da missão são referência, porque colocaram a inovação e a tecnologia no centro das suas estratégias de desenvolvimento. “A Estônia tinha de encontrar uma solução depois da queda do Muro de Berlim e colocou a inovação no centro de sua economia, se tornou exportadora de governo digital, de segurança digital”, afirmou.
Para ele, empresários e academia são fundamentais para criar o ecossistema digital, por isso participaram da viagem governamental. Lamb disse acreditar que o papel do governo do Estado é o de provocar uma mudança de mentalidade, que atualize o Rio Grande do Sul na promoção de negócios digitais.
(Marcello Campos)