Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 9 de setembro de 2021
Pressionado por 131 pedidos de impeachment e uma paralisação de caminhoneiros com reflexos na economia, o presidente Jair Bolsonaro recuou nesta quinta-feira (9), das ameaças que fez em discursos no 7 de Setembro.
Após reunião com o ex-presidente Michel Temer, Bolsonaro divulgou uma nota na qual baixou o tom das últimas tensões e chegou até mesmo a elogiar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na última terça (7), Bolsonaro chamou Moraes de “canalha” e prometeu desobedecer decisões do magistrado. Agora, disse que as declarações foram feitas no “calor do momento”. O texto da nota em que defende “respeito pelas instituições” foi elaborado com a ajuda de Temer, a quem Bolsonaro mandou buscar em São Paulo para uma reunião no Palácio do Planalto.
“Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar”, diz Bolsonaro.
Segundo o Estado de S. Paulo, o presidente telefonou para Moraes para avisar que divulgaria a nota. Na avaliação de ministros do Supremo, o recuo de Bolsonaro em relação às ameaças da véspera se deu por “medo de algo” e vão esperar se a “bandeira branca” se mantenha. Um magistrado disse ter ficado surpreso com a intervenção de Temer.
Na nota, Bolsonaro enaltece as qualidades de Moraes como “jurista e professor”. “Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”, afirma. “Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.”
O movimento do presidente coincide com a retomada das discussões sobre o apoio ao impeachment em partidos de centro e até de sua base. A Executiva do PSDB decidiu migrar para a oposição e pela primeira vez iniciar um debate interno sobre impeachment. O MDB também já fala abertamente na defesa da cassação de mandato, além de outras siglas, como o PSD, que também discutem o tema. Hoje, para um pedido avançar na Câmara, é preciso o apoio de uma sigla de centro, pois, sozinhas, as legendas de oposição não reúnem votos suficientes para a cassação ser aprovada.
No Judiciário e no Congresso, a avaliação é de que a “operação 7 de Setembro”, em qual Bolsonaro apostou para demonstrar popularidade e força política, deu errado. Embora um número expressivo de pessoas tenha ido às ruas, os atos foram menores do que o presidente esperava. A adesão dos policiais militares, preconizada por diversas vezes por Bolsonaro, não ocorreu, e a paralisação dos caminhoneiros em ao menos 14 Estados foi considerada um “tiro no pé”.
Na noite de quarta (8), em uma tentativa de evitar desgastes à sua imagem, Bolsonaro enviou mensagem de áudio pedindo aos caminhoneiros para interromperem as paralisações, que estão sendo feitas justamente em apoio ao presidente e contra o STF. Na mensagem, Bolsonaro trata os caminhoneiros como “aliados” e apela para que os manifestantes desobstruam as vias porque “atrapalha nossa economia”.
Segundo pessoas que participaram da discussão do texto, Bolsonaro aceitou a proposta de pacificação de Temer e adotou o tom de uma nota que o ex-presidente rascunhou em São Paulo, antes de viajar a Brasília.
Temer é um aliado de Alexandre de Moraes, ambos acadêmicos de Direito. Moraes foi ministro da Justiça no governo Temer e depois indicado pelo emedebista ao Supremo. Ele goza da intimidade do ex-presidente e foi responsável, quando secretário de Segurança Pública em São Paulo, por cuidar de uma investigação que apurava crimes de um hacker que teria obtido conteúdo íntimo da ex-primeira-dama Marcela Temer e tentava chantageá-la para não divulgar o material.
Na terça, em discursos em Brasília e em São Paulo, Bolsonaro adotou tom golpista ao ameaçar o Supremo, disse que não cumprirá decisões do ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”, voltou a atacar as urnas eletrônicas e afirmou que só deixará a Presidência morto. “Ou o chefe desse Poder (Judiciário) enquadra o seu (ministro) ou esse Poder vai sofrer aquilo que não queremos”, disse. Ele pregou que “presos políticos sejam postos em liberdade”, em referência às detenções de bolsonaristas determinadas por Moraes.