Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2019
O presidente Jair Bolsonaro deixou de lado sua postura de alinhamento a Donald Trump ao descartar a consulta do mandatário norte-americano sobre apoio brasileiro a eventual ação militar na Venezuela. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Em sua principal reunião bilateral durante a cúpula do G20, no Japão, Bolsonaro disse a Trump que era preciso pensar no dia seguinte e afirmou que o Brasil não pode adotar essa linha na América do Sul.
No encontro reservado, Bolsonaro se afastou da idolatria manifestada publicamente ao americano e adotou postura pragmática ao apresentar suas preocupações com a empreitada sugerida pelo aliado.
O diálogo mostra um agir diferente do presidente brasileiro em suas declarações públicas e em privado, na qual a objetividade eventualmente parece se sobrepor a ideologias e alinhamentos preferenciais do governo brasileiro.
A reunião ocorreu em 28 de junho, no segundo encontro entre os dois líderes. O primeiro deles foi em março, quando Bolsonaro deixou a Casa Branca com as promessas de que o Brasil contaria com o apoio americano para ingressar na OCDE, o clube dos países ricos, e de que o país se tornaria aliado prioritário extra-Otan, o que se confirmou na última semana.
A Folha reconstituiu o diálogo entre os líderes com pessoas presentes no encontro. Na presença de auxiliares, os presidentes trataram de temas como as eleições na Argentina e a busca de uma solução para pôr fim ao regime do ditador venezuelano Nicolás Maduro.
De acordo com os relatos feitos à reportagem, Trump se mostrou disposto a fazer uma ação conjunta com o Brasil para provocar mudanças no país sul-americano em crise. Ele sondou então se o brasileiro via a possibilidade de uma intervenção militar conjunta.
Bolsonaro prontamente descartou essa alternativa. O presidente brasileiro argumentou que as Forças Armadas do Brasil foram enfraquecidas nas últimas duas décadas e ponderou que a topografia do país vizinho favorece o regime, porque beneficia a atuação de guerrilhas locais.
Bolsonaro destacou ainda que o patrocínio do Brasil a esse tipo de ação traria “problemas sérios” à região.
Militares que auxiliam o presidente já o aconselharam diversas vezes a se manter distante de uma solução que envolva o emprego de força. Há um temor de que isso possa resultar em retaliações internacionais, desaprovação por parte da população brasileira e até mesmo derrota.
Bolsonaro costuma se dirigir ao regime venezuelano com fortes críticas, associando o governo do país vizinho a Cuba, e os filhos do presidente com frequência ligam a ditadura de Maduro ao tráfico de drogas.
Um deles, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, indicado pelo pai para o cargo de embaixador do Brasil em Washington, já defendeu a intervenção militar na Venezuela.
Ainda no encontro no Japão, Trump elogiou a ajuda do Brasil e disse que Bolsonaro tem agido “com mão firme” na busca de uma alternativa a Maduro, mas o presidente brasileiro alertou o americano de que o país está “no seu limite”.
Como alternativa, Bolsonaro diz que sanções econômicas ao regime de Maduro “são bem-vindas”. Na segunda-feira (5), o governo americano intensificou as ações desse tipo e ordenou o congelamento total de ativos do regime do ditador venezuelano.
Essa é uma prática dos americanos imposta a nações adversárias, como Cuba e Irã.
A possibilidade de que o Brasil patrocine restrições econômicas à Venezuela foi abordada ainda durante o G20 pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.
“Num conceito mais amplo, que é de se imaginar que, por meio da pressão econômica, nós vamos conseguir viabilizar a democracia na Venezuela, poderá, eventualmente, ser analisada alguma ação para que haja a desidratação do suporte de atores que possam introduzir algum suporte econômico na Venezuela”, disse ele durante o encontro.
Rêgo Barros, porém, tratou o tema como uma possibilidade remota e não deu detalhes sobre o que poderia ser feito.
Durante a conversa reservada com Trump, Bolsonaro e o americano ainda trataram das eleições na Argentina em tom de preocupação de uma eventual derrota de Maurício Macri pela chapa de Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice.
O brasileiro propôs que Trump visitasse a Argentina antes das eleições, em outubro, em sinal de apoio a Macri. Também sugeriu uma reunião com outros líderes latino-americanos de direita e a apresentação de “um pacote” de soluções para evitar o que chamou de “surgimento de uma nova Venezuela na América do Sul”.