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Por Redação O Sul | 4 de julho de 2019
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta quinta-feira (04) que os ex-atletas Alexander Popov, da Rússia, e Sergei Bubka, da Ucrânia, receberam propina para votar pelo Rio de Janeiro na eleição que escolheu a cidade como sede da Olimpíada de 2016.
Ele disse também que o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e o ex-presidente Lula (PT) tiveram conhecimento da compra de votos. Os dois, segundo o ex-governador, não participaram da negociação e operação da propina.
Cabral depôs ao juiz Marcelo Bretas no processo em que é acusado de ter pago US$ 2 milhões ao senegalês Lamine Diack, ex-presidente da federação internacional de atletismo, para influenciar na escolha da cidade como sede dos Jogos. Também são réus no processo o ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) Carlos Arthur Nuzman e o ex-diretor da Rio-16 Leonardo Gryner.
Procurados, Paes, Lula e Nuzman negam ter participado do esquema. O ex-governador afirmou que foi Nuzman quem sugeriu o pagamento da propina a Lamine. Eles temiam não passar da primeira rodada de votação das cidades-candidatas.
“Ele chegou com o Leo Gryner. ‘Olha governador, nós temos todas as chances de ganhar. Fizemos uma campanha bonita, os três níveis de governo envolvidos. O presidente da federação internacional de atletismo, Lamine Diack, se abre para vantagens indevidas. Fizemos contato com ele. E há uma garantia de cinco a seis votos. E eles querem US$ 1,5 milhão’”, relatou Cabral.
O emedebista relatou que Nuzman e Gryner o procuraram depois pedindo mais US$ 500 mil a fim de garantir até nove votos. Cabral afirmou que o envolvimento dos dois atletas, integrantes do colégio eleitoral do COI, foi informado por Lamine a Nuzman e Gryner, que lhe relataram o fato.
Quatro cidades eram candidatas na eleição de 2009 (além do Rio, Madri, Tóquio e Chicago). A vitoriosa seria escolhida por eliminação. A cada rodada de votação, a cidade menos marcada é retirada da disputa, iniciando nova votação.
Na primeira, a cidade brasileira teve 26 votos, enquanto a norte-americana foi eliminada com 18. Caso a candidatura carioca tivesse perdido os até nove votos supostamente comprados para a concorrente, a cidade não teria passado.
Após a primeira rodada, o Rio manteve larga vantagem sobre as demais, tendo atraído os votos dos eleitores das cidades eliminadas. Na última votação, superou Madri com 66 a 32 votos. “Era fundamental ter a garantia desses votos. Depois foi a política. A política com ‘p’ minúsculo na primeira fase e a com ‘p’ maiúsculo na segunda e terceira fases”, disse Cabral. Segundo Cabral, Paes soube na véspera de uma viagem a Berlim, em agosto, para o Mundial de Atletismo em 2009. Nesse evento, os dois se encontrariam com Lamine Diack – sem, contudo, tratar da propina.
Lula, de acordo com Cabral, soube em 3 de outubro, dia da votação, após a primeira rodada em que Chicago foi eliminada. “Eu tive um ataque de choro e comecei a passar mal. Ele disse: ‘Ganhamos só a primeira, temos ainda outras’. Falei para ele: ‘Presidente, deixa eu contar para o senhor. O meu medo era passar dessa fase. Nessa fase tive um arranjo político assim, assim e assado’. Falei por alto. Ele fez que não ouviu. Disse: ‘Você está me contando algo que já passou’”, disse ele.
Desde o início do ano, o ex-governador vem confessando os crimes que lhe são atribuídos. O objetivo é tentar reduzir suas penas, que já somam 198,5 anos em nove condenações. Ele é réu em outras 20 ações penais na Justiça Federal e três na estadual.