Quinta-feira, 08 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de julho de 2021
Mais de 200 mulheres de todo o mundo, incluindo atrizes, jornalistas, musicistas e lideranças políticas, escreveram uma carta aberta pedindo aos CEOs de Facebook, Twitter, TikTok e Google para “priorizar a seguranças das mulheres” em suas plataformas.
A carta foi publicada nesta quinta-feira (1°) pela Fundação World Wide Web Foundation e coincide com um compromisso das quatro gigantes da tecnologia de melhorar a segurança de suas plataformas online. A promessa das empresas e a carta, que pretende responsabilizá-las por seus compromissos, vieram no segundo dia do Fórum Geração Igualdade, realizado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em Paris, na França, com foco na igualdade de gênero.
Assinam a carta, entre outras: Graça Machel, viúva de Nelson Mandela; Julia Gillard, ex primeira-ministra da Austrália; Billie Jean King, campeã de tênis; e as atrizes Thandie Newton, Ashley Judd e Emma Watson. “A internet é a praça pública do século XXI. É onde o debate acontece, comunidades são criadas, produtos vendidos e reputações são feitas. Mas a escala de abuso on-line mostra que, para muitas mulheres, essa praça digital não é segura. Isso é uma ameaça ao progresso na igualdade de gênero”, diz o texto da carta.
Diane Abbott, que em 1987 se tornou a primeira mulher negra eleita para o Parlamento Britânico, é outra mulher que assina a carta. Em entrevista, ela afirma que tem sofrido assédio online há anos.
“Há sempre racismo e misoginia. Mas as mídias sociais tornaram tudo pior. A cada dia que você clica no Twitter ou no Facebook precisa se preparar para ver abusos racistas. É um sentimento horrível”, disse.
Uma pesquisa feita pela Anistia Internacional em 2018 estudou o abuso cometido no Twitter e no Facebook contra mulheres políticas e jornalistas. O resultado mostrou que mulheres negras têm 84% mais chances de serem alvos de tuítes abusivos do que mulheres brancas. “Acho que isso afasta as mulheres mais jovens da política porque elas sentem que não conseguem lidar com esse nível de abuso”, diz Abbott.
O compromisso firmado pelas empresas de tecnologia nesta quinta – desenvolvido durante 14 meses de colaboração sob a liderança da Fundação World Wide Web – permite que usuárias gerenciem quem pode interagir com seus posts e fortalece os sistemas para relatar abusos. Mais de 120 especialistas dessas empresas, sociedade civil, Academia e governos em mais de 35 países trabalharam nas soluções para enfrentar o abuso online.
Azmina Dhrodia, gerente sênior de política na Fundação, deu boas vindas ao compromisso: “É a primeira vez que há colaboração entre as indústrias em prol da segurança das mulheres”, diz.
Mas, Seyi Akiwowo, CEO da Glitch, uma organização britânica que faz campanha pelo fim do abuso online, particularmente aquele dirigido às mulheres e aos grupos marginalizados, afirma que o compromisso assumido pelas empresas precisa ir adiante.
“Não há menção à moderação de conteúdo, ao treinamento e apoio logístico necessário aos moderadores de conteúdo e o papel e as limitações da inteligência artificial nessa moderação”, diz ela, acrescentando que a “importância da diversidade e da representatividade” nos postos de liderança dessas empresas também foi esquecido.
A carta aberta faz referência aos resultados de um estudo que ouviu mais de 4 mil mulheres, publicado em 2020 pela revista britânica The Economist, que mostram que 38% delas, em 51 países, experimentaram diretamente o assédio online.
Há dois meses, estrelas do futebol inglês participaram de um boicote de 24 horas para pressionar Facebook, Twitter e Instagram a agirem contra o assédio online e o racismo.
A carta também diz que as mulheres devem ter mais controle sobre as suas experiências online e que as empresas de tecnologia devem permitir que as mulheres sinalizem facilmente o abuso e acompanhem o progresso das denúncias.
A fundação afirmou que monitoraria o progresso das empresas de tecnologia em direção a esses objetivos anualmente. Mas Abbott diz que “está para ver” se alguma ação tangível sairá desses compromissos. “Eles deveriam deixar offline as pessoas que cometem os piores abusos”, afirma. As informações são do jornal The New York Times.