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Por Redação O Sul | 15 de julho de 2019
Divulgado nessa segunda-feira pela Seplag (Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão), um estudo sobre aspectos migratórios e seus impactos econômicos mostra que, entre 2010 e 2018, o Rio Grande do Sul perdeu cerca de 700 mil habitantes para outros Estados ou países. O fenômeno é atribuído a uma combinação de fatores.
Com a menor taxa de crescimento populacional no Brasil, o território gaúcho vê o seu índice de idosos aumentar ao mesmo tempo em que diminui a participação do grupo em idade potencialmente ativa (15 a 64 anos). As causas vão além da baixa natalidade e da maior expectativa de vida em relação ao cenário nacional: trata-se de um Estado com baixos percentuais tanto de emigrantes (saída) quanto de imigrantes (entrada).
Isso resulta na menor taxa líquida migratória fora da Região Nordeste. Dos atuais 11,3 milhões de habitantes, o território gaúcho ultrapassaria o contingente de 12 milhões se todos os indivíduos nele nascidos retornassem ao Estado e os nascidos em outros Estados fizessem o mesmo. O saldo, portanto, é negativo em 700 mil habitantes “Não temos sido atrativos para cativar gente de fora e nem para reter pessoas, especialmente as mais jovens”, sublinhou a titular da Seplag, Leany Lemos.
Queda
Um aspecto que se destaca no trabalho elaborado pelo pesquisador Pedro Zuanazzi, do DEE (Departamento de Economia e Estatística) da Seplag, mostra que em oito anos (2010–2018) o Rio Grande do Sul é o que mais perdeu participação perante a população brasileira na comparação com os demais Estados do Sul e Sudeste. Passou de 5,6% em 2010 para 5,4% no ano passado – esses dois pontos percentuais representam 347 mil pessoas.
Zuanazzi observou que o processo de envelhecimento da população gaúcha (20% da população terá mais de 65 anos em 2035, por conta das baixas taxas de fecundidade e da maior expectativa de vida) é similar aos Estados vizinhos. Mas esse recuo em termos de participação nacional deve ser creditado também às trocas migratórias, pois o Rio Grande do Sul tem um fluxo reduzido nos dois sentidos.
“O problema não é o número de habitantes que saem, pois a emigração não é elevada em relação às outras unidades da federação”, explicou o pesquisador do DEE. “Essa taxa líquida reduzida é decorrente, principalmente, do baixo ingresso de pessoas.”
Destinos
Considerando-se o critério de migração que confronta local de residência e local de nascimento, ou seja, que engloba as trocas migratórias das últimas décadas, Santa Catarina lidera o ranking dos destinos dos gaúchos que decidem morar acima do rio Mampituba: entre saídas e chegadas, o saldo é negativo em mais de 280 mil pessoas. Em seguida estão Paraná (saldo migratório de -177 mil), Mato Grosso (-90 mil), São Paulo (-37 mil) e Mato Grosso do Sul (-33 mil).
O estudo também avalia que os municípios da Fronteira Oeste e Noroeste têm as maiores perdas populacionais dos últimos anos, em parte migrando para outros Estados, em parte devido à migração interna para cidades próximas a Porto Alegre, Caxias do Sul, Lajeado e Litoral Norte (das dez cidades que mais tiveram variação proporcional de suas populações (2010-2017), seis estão localizadas em áreas próximas a praias).
Impactos
Historicamente, o Rio Grande do Sul apresenta déficit migratório, com diminuição de 0,12% da população apenas em 2018. Já em Santa Catarina, o processo foi inverso: houve crescimento de 0,41%. “O saldo migratório passa a ter um papel ainda mais relevante uma vez que a maioria dos migrantes é formada por pessoas de 20 a 35 anos, que estão no começo de seus períodos produtivos, contribuindo para o crescimento da região por um longo período”, ressalta Zuanazzi.
Esse fator tem impacto direto não só no crescimento do PIB gaúcho: “No longo prazo dificultará ainda mais compromissos obrigatórios, que não reduzem seus valores conjuntamente com a redução populacional, como é o caso da Previdência e da dívida pública. Haveria a necessidade de um salto em termos de produtividade por trabalhador para compensar estes reflexos.
A conclusão do Palácio Piratini é de que, após superar entraves fiscais, tem pela frente grandes desafios: tornar-se capaz de atrair novos investimentos, reduzir a burocracia estatal e estimular a inovação: “Precisamos, acima de tudo, atrair jovens de outros Estados e manter aqui nossos talentos”.
(Marcello Campos)