Quinta-feira, 15 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de abril de 2019
Setores da Petrobras resistem ao plano do ministro da Economia, Paulo Guedes, de abrir o mercado de gás e acabar com o monopólio da estatal. A divergência foi explicitada em uma troca de mensagens flagrada pelo jornal O Estado de S.Paulo entre Guedes e integrantes de um grupo de WhatsApp chamado “Equipe Econômica”. Em uma das mensagens, Guedes diz que o gerente executivo de Gás e Energia da Petrobras, Marcelo Cruz, quer “desvirtuar o projeto”. O jornal fotografou Guedes conversando no grupo, que tem representantes do ministério e presidentes de bancos públicos, durante a “Cantata de Páscoa” no Palácio do Planalto, promovida pelo presidente Jair Bolsonaro na quarta-feira (17).
Na conversa, o ministro encaminha ao grupo mensagem que havia recebido do economista Carlos Langoni – que vem atuando como uma espécie de mentor de Guedes na área de gás. “Gde (Grande) PG (Paulo Guedes): O Império contra ataca! Atenção: a turma do gás da PB (Petrobras) – contrária à abertura – quer criar um Gestor de Gasoduto! Coisa de burocrata intervencionista!”, afirma o economista na mensagem que foi encaminhada ao grupo.
Langoni diz ainda que é preciso alertar “RCB e Luciano”, em uma referência ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e a Luciano Irineu de Castro, principal conselheiro da área energética na época da campanha do presidente Jair Bolsonaro e assessor da presidência da Petrobras. E diz que a ANP (Agência Nacional do Petróleo) é contra a “ideia maluca” de criação do gestor, que não discutiria o termo de ajuste que é negociado com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a agência.
Em seguida, Guedes digita: “Marcelo Cruz, gerente de gás da Petrobras. Quer desvirtuar o projeto”. Na mesma conversa, uma segunda pessoa, identificada no celular do ministro como sendo o presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), Joaquim Levy, escreve: “liberdade ao gás. Langoni está certo e temos que acelerar ajuste legislação dos Estados. Abertura já”.
O governo identificou que há certa “resistência interna” na Petrobras, mas que parte de um grupo pequeno, que defende a manutenção do controle estatal no mercado de gás. Isso, porém, não é considerado um obstáculo à implementação da agenda liberal defendida por Guedes. Langoni tem sido o responsável pelas ideias que vêm sendo desenvolvidas pelo governo para o setor. Também egresso da Universidade de Chicago, como Guedes, ele é amigo do ministro de longa data e um dos expoentes do pensamento liberal no País.
Em nota, a assessoria de Langoni, que é diretor do Centro de Economia Mundial da FGV (Fundação Getulio Vargas), disse que ele e Guedes conversam regularmente sobre questões importantes e variadas da agenda econômica. “Langoni não tem qualquer ligação formal com a Petrobras ou com o governo”, completou. Nos últimos dias, Levy tem defendido a “liberdade ao gás” pedida por ele no grupo. Na segunda-feira (15), em debate organizado pelo Lide, ele disse que há “inúmeras oportunidades”. “A produção do gás no pré-sal só vai crescer mais se você aumentar a demanda. E só vai conseguir fazer isso se a distribuição do gás for mais barata”, completou.