Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de setembro de 2015
O papa Francisco ainda tem muito a fazer para provar que a Igreja luta com seriedade contra a pedofilia, considera Thomas McCarthy, diretor do filme “Spotlight”, sobre a revelação de um escândalo envolvendo a hierarquia católica em Boston, nos Estado Unidos, apresentado no Festival de Veneza. Na história, os atores Michael Keaton, Rachel McAdams e Mark Ruffalo interpretam os jornalistas do jornal Boston Globe que revelaram o caso em 2002. A investigação permitiu descobrir como o poder católico local, presidido pelo cardeal Bernard Law, acobertou de maneira sistemática e cínica os abusos sexuais cometidos por mais de 70 padres na cidade americana e seus arredores. Os artigos publicados renderam aos jornalistas o Prêmio Pulitzer, uma dos mais importantes do mundo.
Quase 1,5 mil vítimas testemunharam e o escândalo de pedofilia foi seguido por inúmeras outras revelações envolvendo membros da Igreja por todo o mundo, particularmente na Irlanda. Dez anos depois, o Vaticano afirma ter aprendido as lições do passado e que os procedimentos em vigor para impedir tais crimes evitaram a repetição de escândalos similares.
Esforços da Igreja para punir e acabar com a pedofilia.
De fato, a visita do papa Francisco aos Estados Unidos no final do mês será uma oportunidade para provar a sinceridade dos esforços da Igreja, apesar de McCarthy acreditar que poderia fazer mais. “Acredito que o Papa tenha consciência disso. Se eu penso que o problema está resolvido? Não. Se eu acho que a Igreja tem feito o que deveria fazer? Realmente não”, disse o diretor. Ele também revelou “amar a maneira de falar de Francisco, o que ele diz”. “Este é um homem ao mesmo tempo fascinante e interessante, e eu acredito nele. Mas veremos com o tempo”, acrescentou.
A luta da Igreja foi marcada por várias etapas: em 2011, o Vaticano instou todas as conferências episcopais a colaborar com os juízes civis e desenvolver normas contra os padres culpados ou suspeitos; em 2013, a Santa Sé reforçou a legislação penal, acabando com a impunidade de seus prelados; em 2014, a Pontifícia Comissão para a Proteção Infantil, constituída por 17 especialistas, incluindo ex-vítimas, foi criada. Em junho deste ano, o Vaticano também estabeleceu um corpo para julgar pela lei canônica os bispos que protegeram padres pedófilos.
Jornalismo investigativo.
Além do tema central da pedofilia na Igreja, “Spotlight” é uma oportunidade para celebrar o jornalismo investigativo, declarou Ruffalo, que interpreta o repórter Michael Rezendes.
“Nunca tinha interpretado um personagem como este e eu realmente gostei do seu lado cômico. Inicialmente, ele não tem nenhuma das qualidades normalmente atribuídas a um herói, mas ele realmente é um” , explicou o ator. “Esses homens agiram em águas turvas”, acrescentou o diretor.
“Tudo o que eles investigaram era doloroso e horrível, mas eles foram além e espero que o público entenda que seu trabalho é colocar as verdadeiras questões, até mesmo as mais difíceis”, lembrou. Para McCarthy, esse é “o grande poder da imprensa, algo que eu, como um ‘civil’, não seria capaz de fazer. Questionar as pessoas sobre como elas foram abusadas, como aconteceu. Mesmo que seja importante que seja dito”.
Candidato ao Oscar.
No papel de advogado incansável das vítimas, Stanley Tucci já é citado como um potencial indicado ao Oscar. “Spotlight não é a condenação do catolicismo, mas a condenação de pessoas que iam contra os princípios básicos do catolicismo e cristianismo”, apontou ele. “O problema é que essas pessoas pertenciam à alta hierarquia da Igreja.” (AG)