Sexta-feira, 31 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de julho de 2021
 
				A caminho de se tornar a maior potência econômica do planeta, a China sabe exatamente aonde quer chegar. Em entrevista, o embaixador do país asiático no Brasil, Yang Wanming, detalhou como enxerga a situação da China no mundo e admitiu que as relações com os Estados Unidos passam por uma “nova encruzilhada”. “A chave da questão é saber se os EUA reconhecem ou não que o povo chinês também tem o direito de buscar o progresso”, avaliou.
Wanming garantiu que seu país não tem a intenção de “desafiar ou substituir” ninguém, nem exportar ideologia ou buscar a hegemonia do mundo. Quer, no entanto, ser visto com uma visão “racional e objetiva”. Um dos pontos mais delicados no momento é em relação à tecnologia 5G, usado pelos EUA, segundo ele, como “bullying tecnológico”.
Sobre o Brasil, Wanming afirmou que o apetite por investimentos segue grande, que há disposição em novas parcerias em vacinas e que enxerga oportunidades para a exportação de mais produtos com maior valor agregado do Brasil para a China.
Como um diplomata típico, sai à tangente quando questionado sobre relações com membros do governo local, depois de situações embaraçosas envolvendo o país asiático. Confira:
Como está a relação entre EUA e China nestes primeiros meses do governo do presidente Joe Biden?
As relações China-EUA encontram-se numa nova encruzilhada, e a chave da questão reside em saber se os Estados Unidos conseguem aceitar ou não a ascensão pacífica de um grande país com diferença no sistema social, história, cultura e estágio de desenvolvimento, e se reconhecem ou não que o povo chinês também tem o direito de buscar o progresso.
Na conversa por telefone realizada em fevereiro deste ano, o presidente Xi Jinping e o presidente Joe Biden concordaram em algumas diretrizes para o futuro do relacionamento bilateral, a saber, intensificar as comunicações, gerenciar as diferenças e ampliar a parceria.
Depois disso, houve uma sucessão de interações de alto nível, como por exemplo, o diálogo em Anchorage (no Alasca). Altamente estável e coerente, a política externa da China para com os EUA visa uma relação sem conflito ou confronto, pautada no respeito mútuo e na parceria de ganho mútuo. Ao mesmo tempo, defende firmemente a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento da China.
Esperamos que a parte estadunidense possa mostrar a sinceridade e avançar em direção a um meio-termo em busca de uma convivência pacífica e parceria de benefício recíproco entre os dois grandes países. Isso favorece à China, aos EUA e ao resto do mundo.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Como o senhor enxerga o futuro mercantil para os dois lados?
A China se mantém há 12 anos consecutivos na posição de maior parceiro comercial do Brasil, e este, por sua vez, é o primeiro país da América Latina a ter um volume de comércio com a China acima dos US$ 100 bilhões. Mesmo no contexto da pandemia, esse comércio apresentou um crescimento tão robusto que responde por quase 70% do superávit do comércio brasileiro. Isso demonstra que as relações comerciais China-Brasil são altamente complementares e cheias de vigor.
A China tem o mercado consumidor de maior potencial do mundo e sua demanda interna está se sofisticando rapidamente. Nos próximos 10 anos, a China importará, em termos cumulativos, US$ 22 trilhões em mercadorias. Isso, com certeza, criará oportunidades para a exportação de mais produtos de alta qualidade e com maior valor agregado do Brasil para a China. Estamos dispostos a trabalhar com o Brasil para levar adiante essa parceria de forma estável, diversificada e equilibrada.
Qual é sua expectativa para as negociações em torno do 5G?
No contexto mundial do avanço da nova transformação em ciência e tecnologia e da revolução industrial, o 5G vai dar um impulso ao crescimento econômico dos países. Portanto, é fundamental, para qualquer país, escolher equipamentos de 5G verdadeiramente confiáveis, avançados e de melhor custo-benefício.
O mercado e os consumidores só se beneficiarão com uma concorrência justa, equitativa, aberta e transparente. Mesmo com um histórico manchado em matéria de segurança de internet e autor descarado de ataques cibernéticos contra outros países, os Estados Unidos têm usado repetidamente o pretexto de segurança nacional para cercear empresas chinesas de alta tecnologia e interferir na escolha autônoma de parceiros de 5G por outros países. O objetivo não é, de forma alguma, proteger a segurança cibernética, mas sim manter sua rede de vigilância e a hegemonia digital, um ato típico de bullying tecnológico. Acreditamos que o governo brasileiro vai levar em consideração os próprios interesses nacionais para viabilizar uma concorrência leal entre as empresas com regras transparentes, imparciais e livres de discriminação. Isso é propício para a parceria sino-brasileira no 5G, os interesses de operadoras brasileiras e a lisura do ambiente de negócios em geral.
Com informações do Estadão.