Sábado, 22 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de junho de 2015
O início dos depoimentos dos 12 presos da 14ª fase da Operação Lava-Jato, que prendeu entre eles os presidentes das construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez, Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo, previsto para sábado (20), foram transferidos para hoje (22).
Os investigadores da Lava-Jato adotaram a medida porque as buscas realizadas na sexta-feira (19) em São Paulo se estenderam até o final da noite, atrasando o retorno dos policiais até Curitiba (PR) e a chegada do material recolhido.
Os quatro presos temporários, entre eles o executivo da Odebrecht Alexandrino Alencar, serão os primeiros a serem ouvidos. Suas prisões são de cinco dias, podendo ser prorrogadas a pedido. Os demais, entre eles os presidentes das duas construtoras, só devem começar a falar após esses quatro interrogatórios.
Na manhã de sábado, os investigados passaram por exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico-Legal) de Curitiba. Todos são suspeitos de participação no esquema de cartel e corrupção na Petrobras. Eles foram presos na sexta-feira durante a 14ª fase da Lava-Jato intitulada Erga Omnes. Os 12 estão detidos na Custódia da Superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba – sede das investigações da Lava-Jato. Os presos foram levados em uma van por policiais federais ao IML e retornaram por volta das 12h para a carceragem.
Operador
Filho de pai suíço e mãe brasileira, o economista carioca Bernardo Schiller Freiburghaus, é apontado pelos investigadores da Lava-Jato como o cérebro financeiro de uma rede que teria permitido à Odebrecht distribuir milhões de dólares em propina no exterior. Quando apareceram os primeiros sinais de que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o ex-gerente Pedro Barusco haviam decidido colaborar com as investigações, Freiburghaus deixou um apartamento no Rio, e mudou-se para Genebra (Suíça).
Em outubro de 2014, ele informou a mudança de país à Receita e deixou o Brasil sem sobressaltos. Só em fevereiro deste ano, o juiz Sergio Moro determinou que fosse conduzido à PF para depor. Peça que falta para explicar dezenas de operações que abasteceram contas secretas de ex-dirigentes da estatal, o economista foi incluído na lista de fugitivos internacionais da Interpol (a polícia internacional) por suspeita de lavagem de dinheiro.
Um de seus endereços na Suíça é um apartamento de andar inteiro no Quai des Forces-Motrices – com vista para um badalado centro cultural com o mesmo nome – avaliado por imobiliárias locais em 9 milhões de reais.
No despacho que determinou as prisões de executivos da Odebrecht na sexta-feira, Moro afirmou que Freiburghaus tinha “papel equivalente” ao do doleiro Alberto Youssef, mas as semelhanças entre o economista e o doleiro são poucas.
Enquanto Youssef se aproximou de políticos e ficou conhecido no escândalo do Banestado, Freiburghaus é um operador mais sofisticado: estudou na Suíça e seu foco é gestão de grandes fortunas. É um especialista em transações internacionais.
Tanto ele quanto sua empresa, a Diagonal Investimentos, são cadastrados como agentes de investimentos junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas um relatório de inteligência da PF que embasou as prisões dos dirigentes da Odebrecht aponta Freiburghaus como representante informal de pelo menos quatro grandes bancos de investimentos no Rio: PBK Private Bank, Pictec e os braços suíços do HSBC e do Royal Bank of Canada.
Segundo um dos investigadores do caso, Freiburghaus não tinha ligação com as instituições para quem captava clientes e montava operações para escoar divisas, através de empresas de fachada em paraísos fiscais, até o destino final, contas na Suíça.
Extratos triturados
Tanto Costa quanto Barusco afirmaram que foi o diretor da Odebrecht Rogério Araújo que os apresentou ao dono da Diagonal Investimentos entre 2008 ou 2009. Araújo foi preso na sexta-feira.
Segundo o ex-diretor da Petrobras, o economista abriu as offshores Sygnus Assets S.A. e Quinus Services S.A. e as respectivas contas nos bancos suíços PKB e HSBC para que ele recebesse pagamentos da Odebrecht no exterior.
Em setembro de 2012, estas contas tinham saldos de 20 milhões de dólares, que depois foram transferidos para outras contas em bancos suíços. Tudo indica que Freiburghaus, como procurador das contas, agiu dessa maneira para dificultar o rastreamento do dinheiro.
Costa e Freiburghaus encontravam-se a cada três meses para checar os investimentos na sede da Diagonal. Após a conferência, os extratos eram triturados. No caso de Barusco, segundo a PF, Freiburghaus também abriu offshores e contas na Suíça das quais era procurador. No ano passado, mesmo depois da prisão de Costa, em março de 2014, Freiburghaus teria feito uma remessa de 2 milhões de dólares para contas de Barusco no PBK.
A suspeita é que o operador também seja responsável por transferências de 815 mil dólares da Odebrecht para uma das contas do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, ligado ao PT.
Em abril deste ano, a Procuradoria-Geral da República encaminhou um pedido às autoridades suíças para vasculhar endereços de Freiburghaus e bloquear seus ativos no país. Por causa do sigilo, a Procuradoria não informou sobre que providência os suíços tomaram desde então. (AE e Folhapress)