Segunda-feira, 06 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2025
Tarde quente, piscina, churrasco e música. O ambiente descontraído de uma pousada do interior de São Paulo, tomado por conversas e risadas com diferentes sotaques, era um convite à liberdade, pois reuniu, por um final de semana, pessoas que romperam com a barreira do formato convencional das relações para celebrar o 1º Encontro de Trisais do Brasil.
Ao todo, 39 famílias poliamorosas, com diferentes formatos, seja triângulo, V ou rede, puderam se conhecer para, a partir desse movimento, amplificar a busca por reconhecimento e direitos como o reconhecimento da união poliamorosa.
“Uma pessoa sozinha não vai conseguir fazer essa mudança, mas muitos trisais juntos vão fazer com que as políticas públicas, o governo, enfim, consiga olhar para gente. A gente não tem hoje uma legislação que olhe para as famílias poliafetivas”, ressalta Thais Ventura, 40 anos, psicóloga clínica e presidente da Associação Brasileira de Famílias Poliafetivas.
A confraternização ocorreu em Pinhalzinho (SP), cidade de 15 mil habitantes distante cerca de 120 km de São Paulo.
“O amor em si não é para ser visto como um crime. Seu tenho a capacidade de amar mais de uma pessoa, se eu respeito essas pessoas que estão comigo, por que eu não posso botar num papel que eu quero que ele tenha os mesmos direitos?”, questiona Cristiane Martins Pereira Monteiro, de 41 anos, cantora de Fortaleza (CE) que vive um trisal há dois anos.
Reunir tantas famílias poliafetivas de diferentes regiões do Brasil foi um trabalho logístico de meses, feito por um trisal de Pinhalzinho (SP), que compartilha sua rotina pelas redes sociais para 137 mil seguidores.
“Nunca a gente viu tantos trisais reunidos. A gente fala que é o primeiro do Brasil, para não errar, mas eu nunca soube disso nem no mundo”, destaca Priscila Mira, 41 anos.
Priscila vive ao lado de Marcel Mira, 42 anos, e Regiane Gabarra, de 36 anos, e formam uma família com quatro filhos. Foi pelas redes sociais que conheceram muitos outros trisais e famílias poliafetivas que se reuniram para celebrar e reivindicar pelo reconhecimento de suas existências.
“Além do ambiente seguro, acolhedor, tivemos um momento de fala para defender os direitos do poliamoristas, para lutar a favor dos nossos direitos”, diz Priscila.
Entre as 39 famílias presentes no 1º Encontro de Trisais do Brasil eram diversas as configurações de relacionamento. Trisais em “triângulo” e em “V” eram assuntos recorrentes nas conversas, na busca por entender como se estabelecia a relação afetiva entre eles.
Mas também havia dois casais em busca da terceira metade – os dois, aliás, participaram do reality do Globoplay que trata sobre relacionamentos amorosos -, além de uma família que vive em rede, a família Rocha, formada por um homem e quatro mulheres.
Priscila destaca que os trisais em triângulo e em V, além das relações abertas, são as mais comuns. Entenda, abaixo, o que significa cada uma delas.
– Triângulo: Nas relações em triângulo, os três membros se relacionam afetiva e/ou sexualmente entre si. Ou seja, é uma relação simétrica, onde cada pessoa tem vínculo direto com as outras duas. Exemplo: A ama B e C; B ama A e C; C ama A e B.
– Em V: Nos trisais em V, uma pessoa (o vértice) se relaciona com duas outras, que não têm vínculo entre si. É uma configuração assimétrica, onde o vértice gerencia dois relacionamentos paralelos. Exemplo: A ama B e C; B ama A; C ama A; B e C não têm relação entre si.
– Rede: A relação em rede envolve múltiplas pessoas com diferentes tipos de vínculos entre si. Pode incluir casais, triângulos, Vs e outras formas interligadas, com múltiplas conexões afetivas e/ou sexuais.
– Relação aberta com múltiplos parceiros: Quando um casal ou grupo mantém vínculos primários, mas permite relações externas consensuais. Pode ou não haver envolvimento emocional com os parceiros externos.
– Solo poliamor: A pessoa se identifica como poliamorosa, mas não vive em uma estrutura familiar fixa. Nesse caso, a pessoa mantém múltiplos relacionamentos independentes, sem formar uma “família” poliafetiva.
– Polifamília: Grupo que vive junto ou compartilha responsabilidades familiares, como criação de filhos ou finanças. Pode incluir configurações em triângulo, V ou rede, mas com foco na convivência e estrutura familiar.