Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 19 de agosto de 2021
Seja nos grupos de mensagens de família e amigos, em uma rápida pesquisa na internet com as palavras “peso” e “pandemia”, em uma conversa com qualquer nutricionista, médico ou educador físico para constatar o que muitos de nós sentimos na pele ou no consultório: engordamos durante a quarentena.
De acordo com um estudo realizado pelo Nupens — Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, cerca de 20% dos 14.259 participantes da pesquisa tiveram um aumento de pelo menos 2 kg durante o período que ficamos mais tempo em casa. Assim como está acontecendo na economia, com a retomada lenta e gradual das atividades, o mesmo raciocínio deve ser feito em relação à volta ao corpo pré-pandemia. As dietas para perda rápida de peso muitas vezes são restritivas em alimentos fundamentais para o funcionamento do corpo, o que leva a uma deficiência de nutrientes, podendo ocasionar mal-estar, cansaço, desânimo e, para compensar esses sintomas, muitas pessoas abandonam a dieta e voltam a engordar. Elas também estão relacionadas com o aparecimento de transtornos alimentares, como compulsão, bulimia e anorexia.
A volta ao peso saudável deve ser lenta, conduzida com paciência e atenção, respeitando o momento delicado que ainda vivemos, com o olhar para a qualidade da alimentação. O emagrecimento não deve ser encarado como obrigação ou imposição, mas como consequência das escolhas que fazemos. Há várias explicações para esse ganho de peso. Com o isolamento, nos afastamos das pessoas e dos momentos de lazer e aproveitamos para nos entreter em um novo ambiente da casa, a cozinha. Muitos aproveitaram para aprender a cozinhar, tirar do livro aquela receita que nunca tiveram tempo de preparar, descobrir sabores, combinações, postar e compartilhar fotos dos pratos. Passado esse entusiasmo, com o avanço da doença, o aumento do tempo de isolamento e a adoção do home office por grande parte das empresas, recorremos aos aplicativos de entrega de refeições para nos socorrer da falta de tempo para preparar o almoço ou o jantar. E, por falar em home office, a despensa nunca ficou tão perto da mesa de trabalho.
Bastam poucos passos para que os potes de biscoitos, pães, doces ou amendoins sejam alcançados para nos consolar do chefe chato que insiste em fazer 30 reuniões on-line no mesmo dia. Soma-se a esse “pacote” de situações o estresse causado por uma doença pouco conhecida e que se mostrava a cada dia mais perigosa. O estresse estimula a liberação do cortisol, um hormônio que está intimamente ligado ao aumento de peso corpóreo. Esse hormônio normalmente é secretado para preparar o organismo para situações de pressão, como uma luta ou fuga, enviando sinais para o cérebro, mobilizando estoques de energia para o funcionamento do corpo, a fim de garantir a sobrevivência.
Porém, quando esse mecanismo falha, ocorre o contrário: depressão e diminuição do gasto energético, fatores que auxiliam o aumento de peso. Há uma frase que uso para todos os pacientes que me procuram com a queixa de terem engordado na pandemia: não há problema em ganhar peso. Os quilos a mais na balança não definem quem você é, quanto sucesso você tem ou o quão bonito você aparenta. O que devemos cuidar é da saúde! Qual o impacto do ganho de peso no colesterol? E na glicemia? Está com dores nas articulações? A mudança na alimentação alterou os níveis de vitaminas e minerais?
Se a resposta for sim a pelo menos uma dessas perguntas, devemos olhar com mais atenção ao que vai no nosso prato. Além disso, a qualidade da alimentação está relacionada ao aparecimento ou não de várias doenças e, em tempos de pandemia, vale ressaltar que os nutrientes têm impacto significativo no sistema imunológico, que é responsável por proteger o nosso corpo de doenças. “Que o alimento seja seu remédio, e o remédio seja seu alimento.” A frase de Hipócrates nunca foi tão atual. Que seja o remédio para o corpo e para a alma.