Terça-feira, 27 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 26 de dezembro de 2020
Um estudo do The National Institute of General Medical Sciences e da University of Virginia Brain Institute, publicado no início deste ano, afirma que o centro de prazer do cérebro e relógio biológico que regula a alimentação estão ligados, e que os alimentos com alto teor calórico, que geram prazer, interrompem os horários normais de alimentação, resultando em consumo excessivo.
Com isso, começa-se a beliscar entre as refeições, e esse hábito é um dos grandes responsáveis pela epidemia de obesidade, que leva a uma série de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes.
O nutrólogo Leonardo Paiva explica que o centro de prazer do cérebro produz a dopamina química, neurotransmissor que dá a sensação de prazer e que está ligado ao relógio biológico que regula os ritmos fisiológicos diários. Ou seja, a comida passa a ser relacionada mais a uma recompensa prazerosa para o organismo do que com a fome em si. Para evitar que isso se torne um círculo vicioso, o ideal é que se mantenha horários mais rígidos de alimentação.
Nada de beliescar entre as refeições. Além disso, escolher alimentos nutricionalmente ricos é fundamental.
“A sinalização de dopamina no cérebro governa a biologia circadiana e leva ao consumo de alimentos com muita energia entre as refeições e em horários estranhos”, explica Paiva.
Dopamina é um neurotransmissor que causa prazer, entre eles a sensação gostosa que se tem ao comer um doce ou tomar um sorvete. Essa sensação, segundo o nutrólogo, pode ser viciante, e levar a pessoa a sempre procurar por alimentos calóricos, gordurosos, doces e prazerosos. Muitos deles, ultraprocessados, que não oferecem nenhuma vantagem nutricional.
“Além de muitos desses alimentos conterem várias substâncias químicas como conservantes e realçadores de sabor, eles também são tidos como alimentos com calorias vazias, pois não apresentam vitaminas e minerais. Com o passar do tempo, a pessoa começa a beliscar e a deixar as refeições importantes de lado. Isso pode levar à obesidade que já é sabido que causa câncer e leva também a diabetes, fome oculta (quando a pessoa tem deficiência nutricional devido a alimentação rica em calorias vazias) e até doenças como Alzheimer”, alerta.
Os alimentos ultraprocessados desregulam os horários de comer, levam ao superconsumo alimentar e à obesidade, com o aumento das doenças do coração, diabetes, câncer e hipertensão. Para evitar o problema, o ideal é:
1) Manter horários fixos para as refeições;
2) Não beliscar entre uma refeição e outra;
3) Evitar alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras, açúcares e aditivos;
4) Apostar em uma alimentação nutricionalmente rica, com pratos coloridos e equilibrados.
Doenças
Algumas doenças causadas pela má alimentação são:
– Obesidade e suas consequências, como diabetes, síndrome metabólica e câncer;
– Gastrite;
– Colesterol elevado;
– Hipertensão arterial;
– Doenças generativas;
– Prisão de ventre;
– Anemia nutricional.
Professor titular de nutrição da USP e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, Antonio Herbert Lancha Junior explica que alimentos mais calóricos, na prática, os mais ricos em gordura, teriam uma ação importante sobre a secreção de dopamina, e com isso fariam com que as pessoas perdessem o horário de ingerir alimentos.
“Por exemplo, eu tomo café da manhã, almoço, lancho à tarde, janto e vou dormir. Mas se eu consumo esses alimentos mais densamente calóricos, eu passo a ter esse sinal de recompensa mais forte do que a minha necessidade nutricional. E isso poderia estimular o overfeeding”, completa.
Segundo ele, quando você dispara esse sinal de recompensa, ele sobrepõe-se ao sinal de fome, então a pessoa busca mais alimentos com característica hedônica (relacionado ou definido pelo prazer) do que necessariamente a ingestão de alimentos quando sente fome. Com isso, o indivíduo passa a fazer consumo compulsivo, onde se faz ingestão não só pela necessidade nutricional, mas por uma necessidade de recompensa.
De acordo com o especialista, o modelo apontado na pesquisa é uma tentativa de explicar a mudança de comportamento de ingestão de alimento porque se tem fome para um consumo de alimento hedônico, que terá uma recompensa emocional mais forte. E é isso que se deve evitar.