Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 27 de março de 2021
O Instituto Butantan anunciou uma nova candidata à vacina contra o coronavírus (Sars-CoV-2). Produzido inteiramente no Brasil, o imunizante deverá ter o pedido de autorização para ensaios clínicos em seres humanos encaminhado para a Anvisa. Atualmente, o Instituto Butantan é o maior produtor de vacinas do país e já fornece a CoronaVac, vacina de origem chinesa com maior volume disponível no Brasil atualmente.
Funcionamento
A tecnologia da ButanVac usa o vírus de uma doença respiratória (chamada de Doença de Newcastle, uma patologia que não provoca sintomas em seres humanos) como vetor para levar a proteína Spike do novo coronavírus de forma íntegra, estimulando o organismo a produzir anticorpos contra o causador da covid-19. Por utilizar um vetor viral que não causa sintomas no ser humano, a vacina é considerada com alto perfil de segurança.
A técnica do vetor viral como forma de levar a proteína Spike não é novidade: as vacinas de Oxford/AstraZeneca e da Janssen, por exemplo, também utilizam um vetor viral com a proteína do novo coronavírus para estimular uma resposta imunológica. A grande vantagem é que, no caso da ButanVac, o vetor viral usado se desenvolve bem em ovos embrionados —a mesma engenharia utilizada na produção da vacina da gripe (que combate o vírus influenza)—, um produto para o qual o Butantan já possui estrutura industrial e já produz com excelência há tempos. Os ovos embrionados —ou, popularmente falando, com pintinhos em estágio inicial de desenvolvimento— são ovos de galinha fecundados em granjas especificamente para esse fim. O ovo nesse estado serve como meio de cultura, já que o vetor viral precisa de uma célula viva para se replicar.
De acordo com o Butantan, a ButanVac será produzida integralmente no Brasil, sem depender de importação de IFA (ingrediente farmacêutico ativo), como nas outras vacinas contra a covid-19 feitas aqui. Isso porque a fábrica de imunizações contra influenza do Butantan pode utilizar a estrutura industrial que já tem para produzir o insumo da ButanVac. Isso aconteceria assim que a fabricação da vacina da gripe deste ano fosse encerrada —em meados de maio.
Prazo otimista
Para Natália Pasternak, doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência, a notícia da nova vacina é muito positiva. “Foi uma boa sacada, já que possuímos uma estrutura pronta e isso dá fôlego para a produção do imunizante”, avalia. “Uma vacina nossa vai trazer autonomia para o nosso plano de vacinação”, avalia. No entanto, a especialista é crítica sobre o prazo dado pelo governo. “Faltou informação técnica para entendermos melhor como os testes vão funcionar, onde serão feitos e, sem isso, fica difícil falar com certeza quando teremos essa vacina produzida”, afirma.
Testes
O pedido de autorização para ensaios clínicos que o Instituto Butantan vai fazer à Anvisa se refere às fases 1 e 2, etapas em que são avaliadas a segurança e a eficácia do uso da vacina em seres humanos. Durante a fase 1, pequenos grupos de indivíduos, normalmente adultos saudáveis, são avaliados para verificação da segurança e determinação do tipo de resposta imune provocada pela vacina.
Na fase 2, há a inclusão de um maior número de indivíduos e o produto já é administrado em pessoas com perfil semelhante ao da população-alvo (bebês, crianças, adolescentes, adultos, idosos ou imunocomprometidos). Nessa fase é avaliada a segurança da vacina, a imunogenicidade, a posologia e o modo de administração.
Há ainda uma fase 3, quando a vacina é administrada a uma grande quantidade de indivíduos, normalmente milhares de pessoas, para que para que seja demonstrada a sua eficácia e segurança, ou seja, que a vacina é capaz de proteger os indivíduos com o mínimo possível de reações adversas.