Segunda-feira, 06 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de abril de 2020
A maior parte das medidas anunciadas nas últimas semanas pelo BC (Banco Central) para tentar amenizar os efeitos da pandemia do coronavírus na economia só deve sair do papel neste mês. Mesmo assim não há garantia de que resultem em mais crédito para as empresas. A maioria significa injeção de dinheiro em instituições financeiras, que podem ou não emprestá-lo.
A iniciativa de maior impacto (R$ 650 bilhões), que prevê que a autoridade monetária conceda empréstimo aos bancos tomando letras financeiras como garantia, foi autorizada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), mas ainda depende de circular do BC para começar a valer.
A medida representa metade da liberação de recursos para as instituições financeiras. Essas letras são emitidas a partir da securitização de empréstimos que estão nas carteiras dessas instituições. Na prática, é como se o banco estivesse recebendo o dinheiro emprestado antecipadamente, o que lhe permite emprestar novamente.
A autoridade monetária revisou o impacto da iniciativa de R$ 670 bilhões para R$ 650 bilhões. A primeira liberação de recursos de depósitos compulsórios também ficou um pouco abaixo do estimado. Assim, o pacote que somava R$ 1,216 trilhão em potencial de injeção de liquidez — oferta de dinheiro no mercado — vai para R$ 1,193 trilhão.
A linha temporária de empréstimos do BC para bancos com garantia de debêntures, com projeção de R$ 91 bilhões de impacto, será disponibilizada nesta segunda (6).
A medida de liberação de depósitos compulsórios a prazo, de 31% para 25%, anunciada em fevereiro, já teve efeito no estoque total: queda de R$ 46 bilhões, R$ 3 bilhões a menos que o previsto pelo BC. Depois, a autoridade monetária anunciou outro corte, desta vez temporário, para 17%, que começou a valer na segunda (30), e ainda não há dados sobre o impacto real.
Depósitos compulsórios a prazo são a parcela do valor investido por clientes no banco comercial (CDB, por exemplo) que as instituições precisam depositar no BC como forma de um seguro para diminuir a alavancagem — ou seja, que esse dinheiro seja emprestado indiscriminadamente. Reduzindo essa fração, a capacidade do banco de fazer novos financiamentos aumenta.
Para Rafaela Vitória, a iniciativa é a que menos tem potencial de efetivamente gerar crédito. “Serve mais para resolver problemas de liquidez dos bancos diante da maior quantidade de resgates [de investimentos]”, afirma.
Os recolhimentos compulsórios de depósitos à vista (contas-correntes) aumentaram em R$ 7,7 bilhões de 16 de fevereiro (data da primeira redução) até o fim de março. “Provavelmente significa que as empresas estão fazendo caixa para passar capitalizadas pelo período de turbulência.”