Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 28 de março de 2021
As duas vacinas contra a Covid que estão sendo desenvolvidas no Brasil mostram a importância das parcerias internacionais para combater a pandemia. O vírus não conhece fronteiras e a ciência também não. E é em parceria com instituições americanas que duas novas candidatas a vacinas já estão aguardando autorização da Anvisa para serem testadas e produzidas no Brasil.
“Fazer uma parceria internacional é um motivo de muito orgulho, que deve ser celebrado, deve ser comemorado, ainda mais se essa parceria internacional culmina em uma autonomia de produção para o país”, diz a presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak.
A vacina Versamune é fruto de um consórcio entre a USP de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, com a empresa americana Farmacore. O governo federal investiu R$ 3,8 milhões para acelerar a pesquisa que vinha sendo feita há 4 anos para uma vacina contra tuberculose e que foi adaptada contra o coronavírus.
Em laboratório, os pesquisadores cultivam réplicas inofensivas da proteína “S” que o coronavírus usa para entrar nas células do corpo. Depois de extraída e purificada, a proteína é embalada em nanopartículas de um tipo especial de gordura capaz de ativar o nosso sistema imunológico. A combinação da proteína Spike com a nanopartícula se mostrou poderosa nos testes pré-clínicos.
Mesmo que a proteína falhe e o vírus se ligue a uma célula saudável, ele é combatido por células de defesa “T”, ativadas por essas partículas de gordura presentes na vacina.
Segundo o coordenador da pesquisa no Brasil, a tecnologia foi desenvolvida pelos americanos e adaptada pelos pesquisadores brasileiros. A remuneração dos parceiros virá se os estudos em voluntários brasileiros, previstos parar durar até agosto, der certo e a vacina for aprovada pelos órgãos reguladores.
A outra vacina anunciada, a Butanvac, usa uma tecnologia também avançada, mas diferente. Os pesquisadores usam um vírus chamado Newcastle que infecta aves, mas não provoca doença em seres humanos. Esse vírus é modificado geneticamente para produzir a proteína “S”, a chave da invasão nas células do corpo.
Ovos são usados como local de reprodução desses vírus que depois de retirados são purificados e inativados quimicamente gerando a matéria-prima da vacina. Ao ser injetada, a Butanvac engana o organismo que pensa estar sendo atacado por um vírus de verdade e produz anticorpos que vão agir se o coronavírus atacar.
A Butanvac foi divulgada como vacina 100% nacional em uma cerimônia no Instituto Butantan. No fim da tarde, um pesquisador do hospital Monte Sinai, de Nova York, revelou que a tecnologia havia sido desenvolvida lá. O Instituto Monte Sinai, de Nova York, informou que desenvolveu a técnica do vírus da doença de Newcastle e cedeu o vírus modificado para o Butantan, sem pagamento de royalties.
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, confirmou essas informações. Disse que Vietnã e Tailândia também fazem parte do consórcio que vai usar o vírus Newcastle. “Ele foi disponibilizado sem custo para esse consórcio, mas com um compromisso. O compromisso é de produzir vacinas para os países pobres e de renda baixa”, disse.
Dimas Covas disse que a partir do vírus modificado, todo o processo passa a ser o mesmo que o Butantan já usa para a vacina da gripe. Junto com o pedido de testes em voluntários brasileiros, o Butantan já enviou para a Anvisa os resultados dos testes em animais feitos também fora do Brasil.
“O Butantan desenvolveu a formulação vacinal e mandou para realizar estudos pré-clínicos na Índia. Da nossa vacina especificamente, os estudos foram realizados na Índia e são esses dados que vão subsidiar todo o desenvolvimento subsequente dos estudos clínicos. E, a partir de maio, poderemos produzir já inicialmente 40 milhões de doses dessa vacina, já com os dados do estudo clínico que deve começar brevemente, assim que a Anvisa autorizar”, disse Dimas Covas.