Domingo, 05 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2025
O governo brasileiro anunciou nesse sábado (4) a compra de dois antídotos, fomepizol e etanol farmacêutico, para reforçar o tratamento de intoxicações por metanol no País. Eles estarão disponíveis para as redes pública e privada até o fim da próxima semana, segundo o Ministério da Saúde.
O número de notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica subiu para 195 no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde. São 14 casos confirmados em laboratório.
– Quais são os antídotos? Os antídotos comprados pelo governo brasileiro são o fomepizol e o etanol farmacêutico. Foram adquiridas 12 mil ampolas de etanol farmacêutico e 2,5 mil unidades de fomepizol.
O fomepizol é considerado a referência mundial para esse tipo de envenenamento. Ele não tinha registro no país e precisou ser importado de forma emergencial. A compra teve apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e foi feita de um fabricante no Japão.
Já o etanol farmacêutico é feito por laboratórios e farmácias de manipulação. O novo lote vai se somar a 4,3 mil ampolas já entregues aos estoques do SUS pelos hospitais universitários federais.
– Quem deve tomar o antídoto? Os antídotos são utilizados apenas para tratar os casos de suspeita de intoxicação por metanol. Eles ficarão disponíveis para as redes pública e privada de atendimento à saúde, sendo que as unidades públicas terão prioridade, segundo o ministério.
Eles só podem ser aplicados no ambiente de saúde, com monitoramento médico, ressalta o governo.
O profissional que atender o paciente não precisa esperar a confirmação do laboratório para aplicar o antídoto, mas a dose só deve ser fornecida após prescrição médica.
– Como funcionam a produção e distribuição dos antídotos? No caso do fomepizol, que não é produzido no Brasil, os medicamentos comprados do Japão serão distribuídos aos estados brasileiros de acordo com a demanda, segundo o ministério.
Para o etanol farmacêutico, os insumos já disponíveis no país começaram a ser distribuídos neste sábado, atendendo Bahia, Pernambuco, Paraná, Mato Grosso e Distrito Federal.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 604 farmácias de manipulação no país estão aptas a produzir etanol farmacêutico. Elas serão preparadas para atender as demandas e garantir cobertura em todas as capitais.
Para aumentar a capacidade de diagnóstico, a Anvisa indicou três unidades para realizar análises imediatas dos casos: o Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), Laboratório Municipal de São Paulo e o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz).
Fomepizol
– O que é o fomepizol: O fomepizol pertence à classe dos inibidores da álcool desidrogenase (ADH), enzima do fígado responsável por metabolizar tanto o etanol quanto o metanol. No caso do metanol, esse metabolismo é perigoso porque gera compostos altamente tóxicos — como o formaldeído e o ácido fórmico.
Quando o paciente recebe fomepizol, a droga bloqueia a ADH e interrompe essa transformação nociva. O metanol circula “intacto” no organismo, sem virar veneno, e pode ser eliminado naturalmente ou com ajuda da hemodiálise.
A hepatologista Natália Trevizoli, do Hospital Sírio-Libanês, explica que a droga é considerada “mais precisa, segura e rápida, sem causar os efeitos de intoxicação do etanol”.
Segundo ela, quando administrado cedo, o fomepizol impede a formação de ácido fórmico, protegendo olhos, cérebro e fígado, reduzindo o risco de sequelas irreversíveis.
Etanol
– Como funciona o etanol puro: Na ausência do fomepizol, hospitais recorrem ao etanol grau farmacêutico como alternativa. O princípio é semelhante: o etanol também disputa a mesma enzima (ADH) e retarda o metabolismo do metanol.
“O etanol entra como antídoto, para competir com a ADH, manter a enzima ocupada e evitar que o quadro evolua”, explica a hepatologista do Hospital Nove de Julho Lisa Saud.
Segundo a médica, esse uso precisa ser endovenoso e é restrito a 32 centros de referência do Sistema Único de Saúde (SUS). “Na prática clínica de hospitais privados, não é algo disponível.”
Natália Trevizoli reforça que etanol e fomepizol funcionam como “bloqueadores” da ADH, mas lembra a diferença fundamental:
“O fomepizol é um tratamento mais preciso, seguro e rápido. O etanol, em excesso, também intoxica o organismo.”
Mesmo com fomepizol ou etanol, há situações em que o dano já está instalado.
“Se o paciente chega acidótico, com sinais oculares ou neurológicos, muitas vezes é indispensável associar hemodiálise, que atua como filtro externo para retirar rapidamente o metanol e seus metabólitos”, detalha Trevizoli.