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Por Redação O Sul | 16 de outubro de 2017
A delação premiada do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, tratado como operador de propina para políticos do PMDB e ligado ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atingiu não apenas o presidente Michel Temer, mas também outros políticos, como o próprio Cunha e até o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, Jorge Picciani (PMDB-RJ). Confira os principais trechos dos depoimentos do doleiro, que precisará pagar multa de R$ 45 milhões e cuprir dois anos de prisão em regime fechado.
Percentual para Temer
Em delação, Funaro afirmou que Temer ficava com um percentual das propinas repassadas ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dinheiro esse “capitaneado em todos esses esquemas que ele [Cunha] tinha”, conforme disse o delator. O detalhamento das afirmações de Funaro a procuradores da PGR (Procuradoria-Geral da República) está registrado em vídeos.
“Tenho certeza que parte do dinheiro que era repassado, capitaneado em todos esses esquemas que ele tinha, dava um percentual também para o Michel Temer. Eu nunca cheguei a entregar, mas o Altair deve ter entregado algumas vezes”, afirmou o doleiro, que operava esquemas do PMDB da Câmara.
Francos suíços
Segundo Funaro, em 2014, ele repassou propina de 5 milhões de francos suíços do empresário Jabob Barata Filho, dono de empresas de transporte público no Rio, para o ex-deputado federal Eduardo Cunha e para o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Jorge Picciani.
“No ano de 2014, o Eduardo Cunha me procurou perguntando se eu teria uma conta na Suíça que pudesse receber a quantia de 5 milhões de francos suíços e que essa conta tinha que ser na Suíça, não podia ser em outro lugar. Eu disse que tinha e passei os dados para ele. Passado um tempo ele me mandou uma mensagem dizendo que iriam depositar o 5 milhões de francos suíços”, disse o doleiro.
Incentivo de Joesley
Funaro relatou um acordo feito com o empresário Joesley Batista para contornar uma eventual delação premiada do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para “a vaca não ir para o brejo”, segundo as palavras do próprio Funaro, ele deveria sair na frente, ou seja, se antecipar a Cunha fechando antes um acordo de colaboração. Mas com uma condição: não poderia comprometer Joesley.
A negociação, de acordo com Funaro, ocorreu no primeiro semestre de 2016. Na época, as informações sobre contas mantidas por Cunha na Suíça estavam colocando seu mandato em risco. As informações compartilhadas pelas autoridades suíças com o Brasil deixaram tanto Funaro como Joesley preocupados. O operador disse que qualquer problema com Cunha teria um “efeito dominó”, afetando Funaro, Joesley e a JBS. A delação de Funaro, porém, não se concretizou na ocasião. Preso em julho de 2016, ele só passaria a colaborar em 2017, após o próprio Joesley se tornar delator.
Documentos
Para dificultar o monitoramento de suas comunicações quando estava envolvido em atividades ilícitas, Funaro narrou em depoimento as negociações para firmar um contrato com a JBS, cujos executivos viriam posteriormente a firmar acordos para colaborar com a Justiça. Não houve troca de e-mails. Documentos eram enviados por envelopes, e as versões originais foram rasgadas. Segundo Funaro, foi assim que ele procedeu com Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico da JBS.
“Naquela época, a gente já nem trocava e-mail. Só trocava e-mail quando era combinado que ia trocar e-mail, porque já estava todo mundo neurótico com relação a problema, que pudesse estar sendo monitorado, alguma coisa desse tipo. Então o que acontecia: eu mandava documentos para Francisco por envelope. Francisco me mandava por envelope. Aí ele fez o contrato. Eu li o contrato. Fez o contrato com uma data anterior, de 2012. E aí nós combinamos de assinar todo mundo junto e rasgar as versões originais”, contou Funaro.
Atos de Temer
Funaro esteve por trás de pelo menos três atos do presidente Michel Temer, quando ele ainda era vice-presidente de Dilma Rousseff, segundo um dos vídeos da delação do operador. O intermediário do doleiro e do vice-presidente foi o deputado cassado Eduardo Cunha.
Primeiro, Funaro afirmou ter certeza de que Temer tinha pleno conhecimento da arrecadação de propina dentro do PMDB, embora nunca tenha visto o presidente “pegando dinheiro”. Um segundo ato de Temer determinado por Funaro envolveu o Banco Central. Ainda segundo Funaro, Temer participou da indicação do ministro da Agricultura, também em atendimento a um pedido seu. Mais uma vez, Cunha foi o intermediário.
Impeachment
Em um dos depoimentos, Lúcio Funaro contou que repassou 1 milhão de reais para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) comprar votos de deputados no processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo Funaro, Cunha queria assegurar o afastamento de Dilma.